Este estudo parte da compreensão da performance e da body art como artes contemporâneas de ressignificação do corpo, que resultam de um processo complexo de relação do homem com o corpo ao longo dos tempos. As novas possiblidades contemporâneas de reconfiguração biotecnológicas do corpo (LE BRETON), o tornaram uma espécie de identidade provisioria (MEDEIROS) quase com um potencial infinito de transformação que já anunciada a sua total reposição e reconfiguração pós-humana (SANTAELLA; SIBILIA). Condição essa que repercute na arte contemporânea, que ao utilizar o corpo como suporte problematiza e coloca em discussão o status do atual do corpo na ciência, na socidade, na política, na economia, na cultura e na própria arte. Sob essa perspectiva analisaremos a performance multimídia A reencarnação de Santa Orlan, da artista performer francesa Santa Orlan, visando desvelar como a artista ao ressignificar o próprio corpo através de intervenções cirúrgicas e coloca em evidência várias questões contemporãneas relacionadas ao corpo, mas problematiza, principalmente, a posição do corpo feminino em uma sociedade que tem aversão ao envelhecimento e à gordura (SIBILIA). Em sua performance, Orlan mostra que o corpo foi e ainda é o resultado de flagelos, manipulações e desejos reprimidos, resultado de questões sociais, políticas, econômicas e culturais que sobre ele atuam. O corpo da mulher é um território misterioso (KRISTEVA) constantemente invadido e manipulado seja pela violência da opressão heteronormativa, que deseja controlá-lo, seja pelas biotecnologias, que desejam modelá-lo conforme os padrões estéticos vigentes. Assim, de maneira extrema e politicamente engajada, embasada em seu manifesto L´Art Charnel (1990), a obra de Orlan vem causar o estranhamento e o desconforto que a arte nos causa ao colocar frente a nós um espelho no qual podemos nos ver.