A maior visibilidade do escritor cubano Leonardo Padura no Brasil se dá a partir de 2013, quando aqui foi publicado O homem que amava os cachorros – tradução de El hombre que amaba a los perros –, muito embora já tivesse boa parte de seus romances policiais traduzidos para o português brasileiro. Em uma de suas colunas quinzenais para o jornal Folha de São Paulo, em 2015, chega a afirmar que, devido ao fato de ter sido tantas vezes abordado em locais públicos no Brasil, desconfia que é mais conhecido nestes territórios do que em seu próprio país. Certamente isso tem muita relação com o marketing editorial – Emir Sader, no blog da Boitempo, afirma que o livro é responsável pelo maior índice de vendas da editora em vinte anos –, no entanto, não me parece exagero afirmar que El hombre... possui um forte apelo aos leitores brasileiros. Minha hipótese é a de que os sentidos políticos provocados pelo texto são responsáveis por isso, de forma a despertar interesse tanto de pessoas que se dizem de direita quanto daquelas de esquerda. Sendo assim, meu objetivo será entender de que maneiras El hombre que amaba a los perros é capaz de provocar sentidos políticos. Para isso, tentarei escapar de análises demasiadamente prementes feitas por parte da recepção crítica. Se utilizarmos como exemplo a resenha de Emir Sader para o Le Monde Diplomatique Brasil ou o prefácio de Gilberto Maringoni para a edição brasileira do romance, ficam evidentes leituras de El hombre... com um foco excessivamente historicista. Esse tipo de viés pode ser justificado pela intensa e textualmente evidente pesquisa histórica realizada por Leonardo Padura na escrita do romance, o qual tem três planos histórico-espaciais distintos em torno de um eixo histórico: o assassinato do revolucionário León Trotski. Sendo assim, minha busca será no sentido de perceber na construção dos personagens, na organização dos capítulos, nas referências à literatura policial do estilo hard-boiled e, eventualmente, em outros aspectos, quais são as maneiras com que o romance em questão é capaz de construir verdades e possibilidades de leitura, e não o entender como um mero acesso à realidade ou ao conhecimento Histórico monolítico e factual. Analisarei, portanto, El hombre que amaba a los perros numa perspectiva de literatura pós-autônoma, buscando ponderar os conceitos restritos de realidade, História e ficção – trazidos didaticamente à tona em prefácios e notas de Padura. Conjecturarei, por fim, como os nexos políticos emanados do romance engendram sentidos no contexto social brasileiro.
Palavras-chave: LITERATURA CONTEMPORÂNEA, LITERATURA LATINO-AMERICANA, LEONARDO PADURA