O trabalho a ser apresentado parte da obra de João Gilberto Noll e de Roberto Bolaño para discutir a seguinte questão: como a relação da escritura que, num determinado momento, encontra-se marcada pelo um momento histórico cujas características são diáspora e perseguição política – levando a formas de exílio – transforma-se numa dispersão ética, numa fragmentação, num descentramento do sujeito, do espaço e, por vezes, até da linguagem? É possível ver certa Enfermidade acompanhando a obra do escritor Roberto Bolaño. Para além de sua doença física, pela leitura de alguns de seus textos, vemos que é recorrente a luta contra essa Enfermidade, que também pode ser o sinônimo de “resignação”. Identificada a doença, resta ir em busca do seu antídoto. A viagem é a busca do antídoto para quem está enfermo e essa busca também é, para Bolaño, o aprendizado pelo qual o poeta deve passar. Seguir viagem é, assim, um primeiro passo da busca da cura para a Enfermidade e em direção ao cumprimento das exigências postas para exercer legitimamente o ofício da literatura. No caso de João Gilberto Noll, o sujeito deixa de ser total(izante) e o Estado deixa de ser totalitário: pertencer não é mais possível, só restam espaços anônimos e fragmentos de um todo que não permitem mais o reconhecimento. Sendo assim, resta muito pouco. Os personagens nollianos vivem a falência da representação, às vezes, aliada à falência da linguagem, resultando na deriva que só pode buscar “formas de ocupar o tempo” ou maneiras de “preencher o tempo com palavras”, como foi dito, respectivamente, pelos narradores de Rastros do verão e O quieto animal da esquina. A partir da ditadura, formas de exílio são percebidas nas obras dos dois escritores latino-americanos. No entanto, após o período de redemocratização, o que era exílio vira deriva e surgem novas questões, talvez, mais significativas. Há a mudança do paradigma policial para o paradigma filosófico, marcada pelo descentramento do sujeito e pela impossibilidade de conhecer o mundo. Para Bolaño, esse mundo é, ao mesmo tempo, familiar, entediante, desconhecido e resta a necessidade de seguir viagem; para Noll, não há mais a possibilidade de representação, restam a linguagem, a não-narração, a dispersão completa no espaço e o início da busca por formas de ocupar o tempo.
Palavras-chave: EXÍLIO, DERIVA, JOÃO GILBERTO NOLL, ROBERTO BOLAÑO