Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
TRÂNSITOS PERFORMÁTICOS EM "LOS DETECTIVES SALVAJES", DE ROBERTO BOLAÑO
MARIANA AUGUSTA PINHEIRO DI SALVIO ALMEIDA
Partindo da hipótese de que a literatura de Roberto Bolaño constitui-se como um modo de acessar o real, incidindo olhares múltiplos sobre ele sem realizar, contudo, uma leitura fechada e definitiva, esta comunicação tem como objetivo analisar o romance Los detectives salvajes (1998) a partir da performance. Com outras palavras, tendo em vista a postura performática do autor de expor traços autobiográficos nesse romance, esta comunicação pretende discorrer sobre uma concepção de arte inserida nas relações do mundo, muito mais preocupada com os meandros éticos e o processo de sua criação do que com a recepção crítica do seu fazer artístico; um modo de construção artística no qual o artista surge como um aprendiz, como um sujeito que busca sentido para a própria vida e também para a alheia, pois , como um performer, percebe-se imerso na experiência da coletividade. Em um primeiro momento, será abordado como o romance, ao trazer traços autobiográficos do autor, realiza uma espécie de trânsito performático rumo a uma coletividade pensada por uma constante abertura para o outro. Em um segundo momento, será analisado como o romance trava uma interessante relação com o tempo presente, despertando nele estratos temporais outros. E finalmente, após termos abordado as dimensões espacial e temporal da narrativa, será analisado o trânsito performático que realiza o romance rumo ao “real indomável”, tendo em vista que, composto por mais de trinta narradores que giram em torno da errância ao longo de vinte anos por América Latina, Europa e África de dois poetas marginais , Arturo Belano e Ulises Lima (o primeiro, alter ego de Bolaño e o segundo, uma homenagem ao amigo Mario Santiago Paspaquiarro), os quais nunca surgem como narradores, sugerindo uma incessante construção identitária sempre atravessada pelo outro, a narrativa acaba por trazer a tona territórios degenerados pela violência, pela guerra e pela miséria: um espaço atravessado por aquilo que não se deixa conhecer por inteiro. Dito de outro modo, o trânsito de ideias, de linguagens e das mais de trinta vozes presentes no romance que se entrelaçam no agora da enunciação em épocas recentes e longínquas, em abismo, bordejando uma história ausente, a dos poetas perdidos que buscam respostas e multiplicam os sentidos em torno da violência que atravessa não somente a história latino-americana, mas também a mundial, faz emergir pedaços de um texto cujo todo não nos é possível conhecer. Sendo assim, com uma estrutura detetivesca, onde a literatura surge imersa em situações limítrofes desde o ponto de vista ético, refletindo, por um lado, sobre o próprio fazer literário, e, por outro, inquirindo sobre os limites entre ficção e realidade, demandando uma postura ética do leitor com relação ao que lê, a literatura, para Bolaño, surge como um campo privilegiado para elaborar, desde as mais diversas perspectivas, o não compreensível da experiência humana, o que pode apontar, de algum modo, para a construção de um horizonte de perspectiva, apesar do enigma do extermínio e da violência que paralisa e mina os desejos de transformação social na América Latina.
Palavras-chave: PERFORMANCE, LITERATURA LATINO-AMERICANA, "REAL INDOMÁVEL", COLETIVIDADE
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