Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
NARRATIVAS DE BARATAS E FORMIGAS: UMA RELAÇÃO ENTRE FICÇÃO E REAL
NANDARA MACIEL LEITE TINEREL
Perrone-Moisés (1998) afirma que a literatura aponta sempre para o que falta no mundo e em nós. Consequentemente, somos levados por meio do texto ficcional a refletir o cotidiano, períodos socioeconômicos, políticos que afetam, direta ou indiretamente, a todos nós. Nos permite refletir a vida e suas nuanças. Pensando nessa “falta”, nos vemos sempre em busca de nós mesmos, do outro, do mundo. É um exercício diário de reflexão e criticidade. Desse modo, ao apontar sempre para o que falta e revelar sempre algo, buscamos por meio do estudo dos contos “Começo”, de Rubem Fonseca, “As formigas”, de Lygia Fagundes Telles e “A quinta história”, de Clarice Lispector, compreender como essas narrativas dialogam e nos permitem entender, de maneira geral, a experiência humana diante de situações que provocam o terror, o medo e, em dados momentos, destacam por meio de seus personagens as fragilidades diante de situações que lhes causam medo. O modo como os personagens lidam e enfrentam com esse sentimento e, como por um motivo ou outro se deixam levar por ele. Além disso, alguns insetos como baratas e formigas, são responsáveis por desencadear nos personagens dessas narrativas o medo. É por meio desses insetos, considerados nojentos e asquerosos, que os personagens perpassam por um momento de transgressão como nos contos de Fonseca e Lispector, uma vez que, saem de um lugar comum, enfrentam seus medos e dão novo significado as suas existências. Enquanto os personagens de Telles se destacam, justamente, por fazerem o caminho oposto dos personagens anteriores. São levados pelas penumbras e situações de medo e fogem. Kothe (1987) faz uma distinção entre os personagens de características baixa (sendo elevados) e os de característica alta (sendo rebaixados). Com relação aos personagens planos e esféricos vemos que são aqueles que não se modificam no decorrer da narrativa ou aqueles que surpreendem pela complexidade dos seus atos, respectivamente. Daquele gordo, insignificante, àquele petrificado pelo cotidiano, ambos caracterizados pelo “baixo” e “esférico”. Já noutro conto os personagens de caráter elevado ao vivenciar o clima de tensão e medo passam pelo “baixo” e “plano”, pois desde o início apresentam características de medo e ao final isso só se concretiza com à fuga. Os contos aqui selecionados nos remetem ao tema do medo e suas implicações. Entre baratas e formigas, personagens insignificantes, que se desconstroem. Vemos que todos os personagens percorrem caminhos diferentes, porém, se entrecruzam na medida em que marcam um processo de busca, de “começo” como enfatiza o próprio título do conto de Rubem Fonseca. Apresentam, de maneira geral, o enfrentamento e não enfrentamento do medo por meio de personagens contemporâneos, a relação do medo e do mundo, do homem. Percebemos que a importância da literatura decorre também de seus leitores, do modo como assimilam o real plasmado pela literatura, da significação dada ao texto literário e, consequentemente, como estes compreendem o mundo à sua volta, o modo como as obras literárias implicam na formação social, cultural, política, psicológica, enfim, na formação pessoal de cada leitor.
Palavras-chave: LITERATURA CONTEMPORÂNEA, MEDO, FICÇÃO, REAL
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