Em momentos distintos, em países diferentes dentro do mesmo território geopolítico cultural chamado América Latina, García Márquez e Ángel Rama tiveram nas tarefas jornalísticas a oportunidade de elaborar sua escritura. Nesse processo de laboratório da escrita, ambos escolheram na extensão do fazer jornalístico, o momento para promover mudanças estéticas e linguísticas em suas escrituras, ou como expressou Aníbal González, “aguçando suas armas literárias para ir explorando e definindo a natureza do discurso literário em contraste com o discurso jornalístico”. (GONZÁLEZ, 1983). García Márquez que teve seus primeiros contos publicados no jornal colombiano El Espectador entre os anos de 1947 e 1952, fato que lhe assegurou o ingresso nas atividades jornalísticas justamente em 1948 ao estrear como responsável por Punto y Aparte, coluna da qual ele se ocupou por um ano e oito meses, abordando os mais variados assuntos, inclusive a literatura. Desse ano em diante até o final da década de 1990, início dos anos 2000, o escritor colombiano prosseguiu em uma trajetória jornalística em que reuniu seus textos de repórter, crítico de cinema, colunista, redator, editorialista e de cronista, alternando-se entre periódicos colombianos como El Espectador,de Bogotá e El Heraldo, de Barranquilla, o que se somou a revista Cambio, de sua propriedade e jornais como The New York Times, e o espanhol El País entre outros, como colaborador. Se ao escritor colombiano coube a prática de textos diários ou semanais, para apurar sua escrita literária, ao uruguaio Ángel Rama coube igualmente a participação em diversos periódicos dentro e fora de seu país, predominantemente na tarefa de crítico de teatro e de literatura, em particular no semanário Marcha, uma das publicações culturais mais expressivas da América Latina. Neste sentido, podemos nos juntar aos estudiosos que afirmam ter sido o periódico um exemplo de jornalismo militante. Uma vez que a publicação constituiu-se como um espaço politicamente independente, marcado pelo caráter reflexivo e analítico de seus textos, cujas páginas se abriam, de forma pioneira na América Latina, para a tarefa intelectual de apresentar, discutir e refletir, entre outros aspectos, o papel da literatura. Também esse exercício da escrita para um veículo de comunicação da imprensa impressa trouxe para ambos um espaço privilegiado e legítimo para se formarem e se exercitarem como sujeitos críticos. Pois foi na imprensa o lugar em que eles nortearam sua própria escrita na condição de escritores. Cada um deles, com suas especificidades, García Márquez dedicado aos textos jornalístico-literários e Ángel Rama voltado para a crítica, com textos marcadamente ensaísticos, puderam expressar-se como intelectuais atuantes, ou nas palavras de Rama nos anos de 1960, “em um momento em que o escritor cumpre uma tarefa social, como uma espécie de um serviço público sui generis”.
Palavras-chave: LITERATURA LATINO-AMERICANA, LABORATÓRIO DE ESCRITA, ÁNGEL RAMA, GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ