É bastante claro, ao observamos o cenário do mercado editorial hoje, que o livro físico não mais disputa lugar com o livro digital. Este embate, iniciado logo no surgimento dos ebooks, ficou para trás ao se notar que existe uma diferença significativa em dois pontos importantes na análise da questão: trata-se de produtos que surgem de técnicas e tecnologias completamente diferentes (e que, portanto, atingem resultados muito distintos), além de visarem a públicos também diferentes. Deste modo, ambos os formatos podem caminhar juntos, explorando aquilo que não pode ser explorado pelo outro, e criando experiências de leitura únicas. Tendo este panorama em mente, a presente pesquisa pretende discutir a materialidade do livro físico através do design gráfico, partindo, para isso, de duas diferentes possibilidades de observação do objeto: o design emocional de Donald Norman (relacionado à teoria dos afetos de Antonio Damasio) e a produção de presença de Hans Ulrich Gumbrecht. Para entender como as duas se relacionam entre si e como se podem aplicar ao livro, utilizo-me da descrição de dois livros da editora londrina Visual Editions: Composition No. 1 ?de Marc Saporta e Tree of codes, de Jonathan Safran Foer, em contraste com dois e-books lançados pela mesma editora, Entrances & Exits, de Reif Larsen, e All this Rotting, de Alan Trotter – estes em parceria com a Google, resultando na biblioteca de livros digitais Editions At Play, que conta apenas com obras que brincam com ferramentas digitais. Esta editora faz parte de um setor no design editorial que, como defendo em minha argumentação, trabalha para uma retomada da presença como referência do ser humano através da criação de projetos gráficos que tencionam mobilizar o afeto de seus leitores através da materialidade táctil, embora ao mesmo tempo invista também em experiências digitais, criando aplicativos literários que se utilizam de recusos tecnológicos de programação avançada para elaborar o desenvolvimento da narrativa. A partir deste contraste, o objetivo desta pesquisa é tentar esboçar uma chave de análise para estes dois tipos de livros que têm sido cada vez mais difundidos no mercado editorial: o livro de artista, que investe pesadamente em recursos para equipar sua materialidade e sua apresentação física, e o livro digital que surge após um melhor entendimento do ebook como novo recurso de apresentação de narrativas, e não mais como apenas uma ferramenta de apresentar textos simples. Além da base teórica já apresentada, serão utilizados também como referencial os estudos de Flusser e Cluver para compor o trabalho.
Palavras-chave: AFETO, DESIGN, VISUAL EDITIONS, EDITIONS AT PLAY