Há exatos 60 anos, tanto as adaptações fílmicas, como as capas da obra têm ajudado a construir o horizonte de leitura do romance Lolita, (1955), do escritor russo-americano Vladimir Nabokov. Nesta pesquisa, pretendemos trabalhar a relação entre texto e paratexto, ou seja, como se opera a relação intersemiótica entre o texto narrativo de Nabokov e as suas capas. Para tanto, enquanto corpus, além do texto literário, selecionaremos quatro capas do romance, sendo duas delas capas comerciais, produzidas desde a publicação da obra e compiladas em site da internet por Zimmer (s/d), e outras duas capas provenientes de um concurso realizado por Bertram (BERTRAM; LEVING, 2013). Dentro deste viés comparatista nos questionamos a respeito de: 1) Como ocorre a relação intersemiótica entre texto e paratexto (capa) neste romance? 2) As capas endossam uma versão parcial do romance, ou seja, a visão da adolescente sedutora segundo o narrador-protagonista? 3) As capas possibilitam que a voz da personagem homônima se manifeste, abordando temas polêmicos como o abuso sexual? Enquanto método de pesquisa selecionaremos capas publicadas observando capas de apelo comercial e erótico que enfatizem a ninfeta. No que se refere as capas provenientes do concurso, escolheremos capas que enfatizam o universo feminino infantil. Escolhidas estas e verificadas as peculiaridades de cada mídia/sistema sígnico, trataremos da fronteira escorregadia que separa os textos verbais e não verbais, ou seja, as inter-relações às vezes conflituosas, às vezes complementares, entre Lolita e suas capas. Nossa hipótese é que enquanto as capas de maior apelo comercial endossam a versão do narrador do romance, algumas provenientes do concurso conseguem abordar artisticamente elementos até então ignorados. Devido às diferentes possibilidades pertinentes a esta outra mídia, consegue-se chegar a sentidos diversos, inclusive dar voz ao oprimido escamoteado pelo narrador-protagonista do texto narrativo. Para que a pesquisa se realize é necessária a articulação entre quatro campos teóricos principais: Intermidialidade, tradução intersemiótica, relação texto – paratexto e figuração de personagem. De forma introdutória, Clüver (2011) postula que a intermidialidade é compreendida como o cruzamento entre as mídias. Além deste autor, recorreremos aos estudos de Arbex (2006), Diniz e Vieira (2012), Veneroso e Melendi (2009). No que se refere ao segundo item, em sua obra Tradução intersemiótica, Plaza (1987) retoma a questão antes abordada por Roman Jakobson, que define a tradução intersemiótica como a transmutação de um sistema de signos para outro, a passagem do verbal para o não-verbal (JAKOBSON, 2005, p. 65). Considerando este processo entre romance e capas, o conceito de paratexto será discutido a partir de autores como Gaspar e Andretta (2010), Genette (2010), Ribeiro (2002), Straccia (2007) e Sonzogni (2011). Em relação aos estudos sobre figuração personagens em diferentes mídias, recorreremos aos estudos de Meyrowitz (2009), Ryan (2005) entre outros