Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
PROFUNDIDADE E REVOLUÇÃO: UMA LEITURA DE "AS RAÍZES DO ROMANTISMO" DE ISAIAH BERLIN
TIAGO LEITE COSTA
Isaiah Berlin dizia que, depois do Romantismo, passamos a identificar como típico das grandes obras de arte a capacidade de transmitir uma experiência estética “profunda”. A metáfora da profundidade remete a qualidades diferentes das que serviam de referência à concepção clássica de arte, tais como a “beleza”, a “universalidade” e a “perfeição”. Quando dizemos que uma obra é profunda, nunca sabemos ao certo explicar o motivo. Isso porque a ideia de profundidade indica algo irredutível, inesgotável, impossível de ser plenamente definido. O conceito de “profundidade” é um dos muitos exemplos de como os românticos romperam com o ideal clássico, para o qual havia uma resposta unificada e racional sobre os assuntos humanos. Devemos ao Romantismo a noção de que a pluralidade e a imperfeição são fontes valiosas de expressão que devem ser exploradas com plena liberdade pelos artistas. Ainda no século XIX, a “profundidade” romântica foi rejeitada por correntes distintas como sinônimo de idealismo sentimentalista. Quem não se lembra do sarcástico Lorde Henry, de Oscar Wilde, para quem “apenas as pessoas superficiais não julgam pelas aparências”? Contudo, mais do que a nostalgia da tradição, a crítica ao romantismo foi o prenúncio das vanguardas do século XX, que suplantaram de vez qualquer critério fixo para a produção ou avaliação das obras de arte. Mesmo um critério vago como o da “profundidade”. Hoje, na ausência de uma tradição que ouse dizer seu nome, alguns defendem que não há mais revolução possível. Dizem que a “tradição da ruptura” esgotou seus limites e que cedeu lugar a uma cultura difusa e “pós” de si mesma. Outros, porém, ainda enxergam fendas nas divisas do irrepresentável, em terrenos proto-semânticos, onde acreditam ser possível flagrar novos modos de afecção-cognição. Seja qual for a versão do presente que desejamos enunciar, a história não se desfaz em um passe de mágica. Foi em diálogo com a história que, desde o Renascimento, as revoluções modernas têm ocorrido. Inclusive, como afirma o texto de chamada do simpósio “Literatura e revolução”, uma das fundamentais lições do Romantismo foi ensinar que a ruptura permanente “não exclui o trabalho com a matéria-prima da tradição enquanto essa for transformável”. Tendo isso em mente, o trabalho pretende comentar o conceito romântico de “profundidade”, tal como analisado por Isaiah Berlin em “As raízes do Romantismo”, a fim de discutir sua possível relevância para o debate atual sobre literatura e revolução. Qual é o significado da “profundidade” na gramática romântica? Em que sentido as revoluções são (foram) profundas? Ainda existem obras e leitores profundos? São algumas perguntas que desejo debater com esse trabalho
Palavras-chave: PROFUNDIDADE, ROMANTISMO, ISAIAH BERLIN, REVOLUÇÃO
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