Este estudo faz uma comparação específica entre a obra de Bertolt Brecht e a obra de W. G. Sebald. Do ponto de vista mais geral, buscamos trabalhar as formas narrativas que servem à arte revolucionária. Para além de obras que expressem “conteúdos” revolucionários, de crítica social ou posição política, interessa-nos compreender a estética capaz de questionar e intervir na reprodução da sociedade e do pensamento. Estudamos o revolucionário na obra de arte, a partir da identificação de estruturas narrativas e configurações estéticas que sejam, em si, de contraordem, de subversão. Os autores citados, seja no teatro ou na literatura, usam a linguagem com distanciamento crítico, ou “estranhamento”, para usar um termo de Brecht. Não comunicam uma história, simplesmente; fazem da linguagem um meio de pensar criticamente, uma proposta inquietante. Jogam para o leitor, ou espectador, a tarefa de terminar de significar a obra, de relacionar os pontos, de construir a obra, não só de absorvê-la. Observamos, de Sebald, Os anéis de Saturno (2002[1992]), romance emblemático no que diz respeito à representação do movimento dialético de construção e destruição do mundo pelo capitalismo. De Brecht, trabalhamos com Estudos sobre teatro (2005[1963]), prefaciado por Aderbal Freire-Filho, que diz: “é com Brecht que o palco é aberto, escancarado, fertilizado, preparado para a explosão da nova poesia cênica, para ser novo, amplo, vivo, rico de possibilidades, em suma, infinito”. Também a literatura ganhou o mundo das infinitas possibilidades no século XX. Dentre essas possibilidades, encontramos a narrativa não linear de Sebald, que desvela da passagem do tempo e da consciência ou inconsciência da História. Brecht desnuda a cena, rompe com a técnica da ilusão dramática, acaba com a quarta parede do palco, colocando o espectador na cena. Os dois nos mostram uma narrativa reveladora do processo, do movimento de transformação dialética do mundo. Essa recomposição estética do discurso, que torna evidentes as relações entre coisas antes separadas pela narrativa linear da dominação e do silenciamento, faz parte da desconstrução da representação burguesa. Utilizamos as teses Sobre o conceito de História (2005), de Walter Benjamin, e a leitura deste feita por Michael Lowy em Walter Benjamin: aviso de incêndio (2005), para discutir a linearidade do discurso histórico dominante e a não linearidade da narrativa revolucionária. Como coloca Sebald (2002, p. 45) no texto mencionado: “não é fácil dizer em que década ou século estamos, pois muitas épocas se acumulam aqui umas sobre as outras e persistem lado a lado”. Já Brecht (2005, p. 21) coloca: “creio que o mundo de hoje pode ser reproduzido, mesmo no teatro, mas somente se for concebido como um mundo suscetível de modificação”. Estudamos, assim, a representação desse mundo.
Palavras-chave: BERTOLT BRECHT, ARTE REVOLUCIONÁRIA, SEBALD, TEATRO E LITERATURA