José de Alencar: entre a ruptura e a manutenção da ordem O presente trabalho faz parte da dissertação intitulada Mãe: o drama da escravidão na obra de José de Alencar, defendida em 31 de março deste ano e que trata das posições de Alencar diante da questão escravista cotejada com sua produção literária, em especial o drama Mãe, escrito em 1859. O Brasil nasceu como nação em 1822. Um pouco antes dessa colônia se tornar uma nação independente, desembarcou em 1808 a Família Real, trazendo consigo de Portugal a primeira tipografia. Isso significa dizer que, antes, a produção literária no Brasil era próxima de nenhuma. Com a Independência, nascia também o desejo de se formar uma cultura genuinamente nacional. Os modelos literários ainda eram europeus. Coincide também que o momento estético-literário em que se encontrava a Europa, continente com o qual havia maior ligação do ponto de vista político, era o romantismo. Se no período colonial nós seguíamos a estética europeia, esse rompimento político nacional também corresponderá à tentativa de, mantendo ainda a estética europeia, criar uma literatura própria, com interesses e linguagem própria. Logo, o início de nossa nacionalidade literária terá uma grande relação com a literatura romântica. José de Alencar participou desse esforço para a criação de uma literatura eminentemente nacional. E o que ele julgava nacional demonstrou ao longo de quase 24 anos de carreira nos mais variados gêneros literários. Criador de heróis inesquecíveis, cujos nomes encheram nossos registros civis, nas palavras de Antonio Candido, Alencar marcou o século XIX e até o XX como leitura obrigatória para todos os que se interessam pela Literatura Brasileira. Alencar também o marcou politicamente: foi eleito deputado pelo Partido Conservador em 1860, assumindo em 1861 e, participando intimamente do poder, tornou-se Ministro da Justiça de 1868 a 1870, com a subida dos conservadores ao poder. Esse trabalho, portanto, se propôs a ampliar a discussão sobre a relação de José de Alencar e o romantismo e o conservadorismo naquele momento de ruptura em que vivia o Brasil pós-independência. Alencar escreveu pelo menos 4 obras – dois dramas e dois romances - em que há a presença marcante de personagens negros, sendo dois protagonistas: Pedro, de O demônio familiar e Joana, de Mãe. Nos dramas Alencar não se preocupa com o aspecto cultural dos personagens negros, mas com o lugar social em que está a maior parte daquela população: a de escravizado numa sociedade escravocrata. Nos romances não há protagonistas negros e é marcado pela cultura negra manifestada no interior dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A situação de escravizados é naturalizada nos romances, a fim de apresentar seu pensamento político conservador. Assim sendo, foi confrontado seu pensamento conservador com a sua obra dramática, sobretudo o drama Mãe, cuja temática foi considerada por muitos críticos, entre os quais Machado de Assis, como abolicionista. Esse drama, provavelmente inspirado no romance estadunidense A cabana do pai Tomás, do chamado abolicionismo romântico, também servirá para Alencar conceber uma ideia de identidade nacional.
Palavras-chave: JOSÉ DE ALENCAR, ESCRAVIDÃO, ROMANTIMO, IDENTIDADE