O presente trabalho tem como proposta o estudo comparativo entre a filosofia de Walter Benjamin e a de Vilém Flusser em torno da tradução. Parto do pressuposto de que a filosofia da linguagem em Flusser e em Benjamin se complementam, na medida em que ao estudá-los em perspectiva comparativista, temos a oportunidade de unir, respectivamente, a abordagem fenomenológica à teológica, pois se o primeiro discorre sobre a língua e a tradução nos estreitos limites da história, o segundo utiliza-se da perspectiva messiânica para ir além dos dados empíricos. Assim, apesar de Flusser asseverar a impossibilidade de uma tradução autêntica entre os três tipos de línguas existentes, as flexionais, as isolantes e as aglutinantes, admite que “a conversação entre elas não é de todo impossível”. (2007, p. 66). Segundo o filósofo, isto ocorre porque certamente há um fundamento “quase inarticulado comum aos três sistemas”, que ele chama de “espectro” de uma língua única hipotética da qual todas as demais teriam surgido. No entanto, para ele, pensar a partir desta perspectiva é considerar que existiu um estágio paradisíaco da língua, antes da Torre de Babel, e isto já seria assumir uma abordagem para além da história, a qual Flusser nega seguir. encontraremos desenvolvida de forma exemplar na filosofia benjaminiana sobre a linguagem. Por outro lado, essa mesma abordagem negada por Flusser pode ser observada na obra Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem do homem (2013), certamente um dos estudos que nos permite perceber a importância que o aspecto teológico possui na construção do pensamento filosófico benjaminiano, visto que ao especular sobre a origem da linguagem, Benjamin recorre ao Gênesis, onde destaca a estreita relação entre Deus, o verbo e a criação: ao criar o mundo, Deus agraciou o homem com o dom da palavra, de modo que ele pudesse nomear as coisas que então permaneciam em estado de silêncio. Nomear é também conhecer, de modo que ao fazê-lo, o homem conhece ao mesmo tempo que domina a natureza. Por fim, recorro ao modelo do espelho, parte inerente à filosofia da tradução em Flusser (2010), como método de construção deste trabalho, a fim de colocar os escritos sobre tradução dos filósofos em estudo frente a frente, de modo que um se reflita no outro até que seus respectivos reflexos tornem visíveis aspectos que o original mantém na invisibilidade.
Palavras-chave: FILOSOFIA, VILÉM FLUSSER, TRADUÇÃO, WALTER BENJAMIN