Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
OS ESCRITORES E A TRADUÇÃO NA EDITORA GLOBO ENTRE OS ANOS 30 E 60.
SHEILA MARIA DOS SANTOS, BERTHOLD ZILLY
É inegável a importância da Editora Globo de Porto Alegre na consolidação de uma literatura estrangeira de qualidade no Brasil. Por seu intermédio os leitores brasileiros puderam conhecer, em impecáveis traduções, as obras de Thomas Mann, Somerset Maughan, Virginia Woolf, Marcel Proust, Giovanni Papini, Conrad, Graham Greene, Aldous Huxley, John Steinbeck, entre outros nomes, que evidenciavam uma intenção de expandir as fronteiras do conhecimento literário para além da França, publicando, igualmente, escritores alemães, italianos, espanhóis etc. O que tanto mais impressiona dada sua localização fora do eixo Rio – São Paulo em uma época em que, segundo Verissimo, "o resto do Brasil era um deserto pontilhado de vocações que, como as miragens, se definiam ou desmanchavam à medida que chegavam perto dos observadores da corte, seus críticos e editores" (cf. BERTASO, 1993, p. 7). Para fazê-lo, os editores Bertaso e Verissimo, responsáveis pela seleção das obras que seriam traduzidas pela Globo, bem como pela escolha do tradutor incumbido para tal função, faziam questão de manter um seleto e experiente grupo de escritores-tradutores, que contou com nomes tais como Mario Quintana, um dos tradutores mais produtivos da Casa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Moacir Werneck de Castro, José Geraldo Vieira, José Lins do Rego, além do próprio Erico Verissimo, entre outros. Apesar do quadro de tradutores da Globo não ser formado exclusivamente por escritores-tradutores, estes ocupam um lugar privilegiado na editora, tendo sido responsáveis por 65% das traduções da Coleção Nobel, por exemplo, enquanto o restante das obras ficou a cargo de tradutores experimentados, tais como Agenor Soares de Moura, Leonel Vallandro, Lino Vallandro, Herbert Caro etc. Segundo Wyler, diversas eram as razões que levavam uma editora a manter nomes de escritores ilustres entre seus colaboradores, dentre elas a preocupação com a qualidade do produto final, pois a assinatura de um grande escritor garantiria, a princípio, o rigor gramatical e o requinte poético necessários à realização de uma boa tradução (WYLER, 2003, p. 113), além, é claro, de motivações publicitárias, uma vez que tais traduções vendiam, simultaneamente, o nome e o trabalho de dois escritores. Tendo em vista tais fatos, pretende-se, com esse trabalho, investigar o quadro de tradutores da Coleção Nobel, única dedicada exclusivamente à literatura traduzida, atentando para a escolha dos tradutores de acordo com o valor literário atribuído à obra a ser traduzida, a fim de refletir acerca da influência do escritor-tradutor na formação do cânone de literatura traduzida no Brasil.
Palavras-chave: EDITORA GLOBO, ESCRITOR-TRADUTOR, CÂNONE LITERÁRIO, TRADUÇÃO
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