Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A TRADUTORA VISTA DE LONGE NOS 70 ANOS DE CRÍTICA: O CASO CLARICE LISPECTOR
RONY MÁRCIO CARDOSO FERREIRA
A fortuna produzida a respeito de Clarice Lispector e sua obra constitui uma página importante da crítica literária brasileira. Pode-se dizer, sem sombras de dúvidas, que a partir da escritora e de sua literatura inúmeros livros, teses, dissertações e artigos se fizeram notáveis. Há três anos, a crítica clariceana completou suas sete décadas de existência e garantiu um lugar de destaque frente a outras fortunas críticas de renomados escritores brasileiros, a exemplo daquelas que trataram de Machado de Assis e Guimarães Rosa. Como uma senhora setuagenária, a crítica acerca da escritora de Perto do coração selvagem adquiriu maturidade e se tornou uma das mais distintas no âmbito brasileiro. No entanto, diga-se de passagem, tal crítica privilegiou tão somente os papéis de escritora, jornalista e, até mesmo, pintora de Lispector, empurrando para debaixo do tapete da história os 36 anos em que Clarice exerceu o ofício da tradução. Durante esse período, a autora brasileira da prosa intimista do século XX traduziu 46 títulos estrangeiros, somados a algumas autotraduções de textos curtos. O trabalho de tradutora foi tão importante no âmbito de seu projeto literário que Lispector chegou a se valer da tradução de fragmentos, poemas e frases alheios para a constituição de sua própria literatura, efetuando uma espécie transmigração textual via tradução que suplementou várias de suas criações, sobretudo quando nos lembramos de algumas crônicas publicadas no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973. Após a demissão do referido jornal, Clarice passou a traduzir obras estrangeiras com mais frequência e, simultaneamente, questionou dentro de sua ficção os padrões impostos aos gêneros literários, situação que fez de suas narrativas o espaço da lacuna e do fragmento por excelência, principalmente se comparadas ao projeto inaugural de 1943. Sob essa égide, a presente comunicação visa a um exame dos esparsos e pontuais trabalhos críticos existentes a respeito do ofício de tradução levado a cabo pela escritora. Como sugere Benedito Nunes (2009, p. 80), ao propormos uma crítica da crítica executada sobre a escritora-tradutora, não vislumbramos apenas uma (re)leitura que se volte a uma negatividade do já posto, visto que, como bem entende Berman (2002, p. 218), o discurso crítico deve ser antes de tudo um ato positivo por meio do qual as obras, os escritores, as traduções e os tradutores subsistam no tempo. Essa crítica positiva coloca a compreensão em primeiro plano, pois, nessa perspectiva, crítica e tradução se aproximam, visto que tanto a crítica (tradução/compreensão de determinada obra), quanto o próprio ato de tradução literária (atividade crítica frente a um original) pode, em um movimento ambivalente, se pôr enquanto possibilidades de leituras inseridas em um contexto sócio-histórico-cultural. Assim, crítica e tradução seriam operações próximas frente aos exercícios de linguagem em seu amplo sentido. Nesse ângulo, esta comunicação, inserida em um projeto maior que desenvolvemos em nível de doutorado, voltar-se-á a algumas reflexões sobre os 70 anos crítica em que Clarice tradutora foi vista de longe.
Palavras-chave: CRÍTICA LITERÁRIA, PROJETO LITERÁRIO, TRADUTORA, CLARICE LISPECTOR
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