Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
VIAGEM AO PORTO “NUMA MIRABOLÂNCIA DE ILUSIONISTA”: LITERATURA E OUTRAS ARTES N"A QUINTA DAS VIRTUDES, DE MÁRIO CLÁUDIO
MARIANA CASER DA COSTA
A cidade do Porto figura na obra do escritor português Mário Cláudio não apenas como ambientação, mas impõe-se como elemento crucial à compreensão de um texto que se legitima como representante da cultura do Norte de Portugal e, como tal, cumpre a função imagética que permite a relação intersemiótica e o diálogo entre a literatura e outras formas de arte. Desse modo, ao reconstruir textualmente sua cidade natal como tabuleiro (espaço) e peça (agente) de um jogo de representações, o artista relativiza verdades e cânones, como o fazer artístico, a cultura e, enfim, o homem enquanto ser social. A escrita marioclaudiana, barroca por excelência, revisita a memória familiar e a coletiva e, assim, num gesto autorreferente de dobra sobre si, de ocultamentos e aparições, coloca-se no cerne dessa discussão desestabilizadora. Em A Quinta das Virtudes, Mário Cláudio, ao reconstruir, pela ficção, o percurso de seus ancestrais, faz da Quinta metonímia do Porto e, portanto, de Portugal. Assim, inscreve-se nesse espaço através da ideia derridiana da fita dupla, que, neste caso, conjuga a biografia e a arte de que é protagonista. Se, por um lado, ao dar a ler a memória de seus antepassados, Mário Cláudio produz, como nos ensina Theresa Abelha, uma espécie de biografia deslocada, por outro lado, esse protagonismo ganha tons bastante generosos quando, ao tecer A Quinta, o artista convoca para junto de si o produto do trabalho de outras mãos: a culinária, a jardinagem e o bordado são exemplos de artes consideradas menores, mas que comparecem ao texto de maneira a exaltar questões estéticas não apenas neste romance, mas como preocupação fundamental da proposta do artista. Logo, o diálogo entre literatura e outras formas de arte se dá, n’A Quinta das Virtudes, de maneira especial em seu oitavo capítulo, denominado “Os estrangeiros”, e são as relações interartísticas estabelecidas nesse recorte o que desenvolveremos neste trabalho, a partir de leituras críticas da obra do escritor e de peças teóricas relativas ao diálogo interartes e à representação. Para tanto, além de outros textos literários marioclaudianos, serão visitados, no arcabouço teórico-crítico desta proposta de leitura: artigos das pesquisadoras Theresa Abelha, Teresa Cerdeira e Dalva Calvão; de G.E. Lessing, Luiz Costa Lima e Aguinaldo José Gonçalves, textos acerca das relações e do diálogo interartísticos e, finalmente, sobre a cultura e as reflexões contemporâneas/ neobarrocas, visitaremos as ideias de Linda Hutcheon e Omar Calabrese. Com isso, esperamos evidenciar a proposta multidisciplinar da escrita marioclaudiana que, ao fazer do texto espaço de convívio entre a narração, a representação, a imagem e o questionamento, torna-o também espaço de discussão sobre a existência, assumindo um caráter reflexivo que excede o literário para, pela via da arte, atingir o fazer social e o estar no mundo.
Palavras-chave: MÁRIO CLÁUDIO, INTERSEMIÓTICA, DIÁLOGO INTERARTES, REPRESENTAÇÃO
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