As textualidades contemporâneas desafiam o leitor de poesia por sua capacidade de inter-relacionar linguagens, de se organizar no campo da porosidade artística: atenuando trocas e toques entre as semioses criativas. Nesse espaço, vemos emergir atuações que se utilizam dos códigos computacionais para complexificar a linguagem e lançar a literatura à especificidade da arte eletrônica, de modo que compilações e estudos acerca do que viria a ser literatura eletrônica se tornam cada vez mais frequentes (Cf. ELO. vol. 1, vol. 2, vol. 3; HAYLES, 2009). No Brasil, atuações emergentes em ciberpoesia tornam igualmente enriquecedor o campo de discussão e de criação da arte em interface com o código computacional. Assim, o trabalho que ora se apresenta, tem por objetivo explorar a atuação eletrônica da poesia de André Vallias, este que liberta a literatura do corpo livro e da fronteira página (SANTAELLA, 2009) para atuar no ciberespaço, integrando canção, procedimentos visuais e movimentos em sua literatura. Compilando suas obras no campo de seu site e da revista Errática, Vallias contribui – por um lado – para a democratização da produção literária; por outro, para uma ressignificação da concepção de poesia, balançada e revisada com o boom culturalista. Inscrita na metáfora do palimpsesto, a poesia de André Vallias aponta para as contribuições da Poesia Concreta, sobretudo as de Décio Pignatari, haja vista o procedimento de libertação do verso da página e da poesia das formas (CAMPOS, A., CAMPOS, H. PIGNATARI, D. 2006). Logo, partindo de um olhar calcado na Intersemiose, este trabalho irá buscar ver como os procedimentos criativos de Vallias lançam sua obra ao abismo, ora por meio da integralização entre as artes, ora por meio da inscrição liame entre a vanguarda concreta. Observando, ainda, as temáticas centrais dessa produção e o modo de reflexão de uma obra que – não rara às vezes – recorre à metalinguagem para se posicionar no lugar de risco poético e de rasuras com as novas atuações literárias.
Palavras-chave: CIBERPOESIA, ABISMO, ANDRÉ VALLIAS, INTERSEMIOSE