Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
SOBRE O VÉU DAS NINFAS: UMA ABODAGEM SEMIOTICA DE “L"APRES-MIDI D"UN FAUNE”
OLGA VALESKA SOARES COELHO
Segundo a pesquisadora Lúcia Santaella (2001), a dança se constitui como uma linguagem bastante complexa já que representa a junção das matrizes da própria linguagem e pensamento, tais como a sonora, a visual e a verbal. Para a autora, a dança e sua sucessão de movimentos expressa uma narrativa que integra também varias submatrizes no instante de sua execução. Assim, a dança só pode ser tratada tendo em vista uma pluralidade de linguagens radicalmete heterogêneas, pois é uma produção artítica que, no final das contas, constitui-se sempre como o resultado da conspiração entre vários textos, linguagens e signos. É uma forma de arte, em si mesma, heterogênea e coletiva, além de ser a tradução de algo sempre anterior a ela mesma. Escolhi como objeto de minha análise, o ballet “L"Après-midi d"un Faune”, coreografado por Vaslav Nijinsky a partir da “sinfonia poética” de Claude Debussy, "Prelude à l"après-midi d"un faune". Essa peça estreou em Paris em 29 de maio de 1912, com Nijinsky dançando o papel do Fauno. Tanto a coreografia quanto a sinfonia foram inspirados no poema de Stephane Malarmé, de mesmo título. Assim, essa coreografia traduz para a linguagem da dança, o poema de Mallarmé dialogando também com a tradução semiótica de Debussy do mesmo poema. Como recorte específico de análise, selecionei um trecho do filme, “Nijinski: uma história real”, baseado no diário publicado pela esposa desse bailarino. Ora, sabemos que a dança é um espetáculo que, como o teatro e a perfórmance, acontece no palco, diante do olhar do espectador. Diferente disso, quando veiculada em um filme, a dança traz a marca de três temporalidades distintas: o presente da apresentação cênica, o presente da edição fílmica e o presente da exibição. Após receber um tratamento audivisual, a dança, dessa forma, deve ser pensada como um outro gênero textual: a “dança filmada”, gênero que envolve, por definição, um processo tradutório entre os códigos linguísticos da dança e a linguagem fílmica. Ora, se o trecho do filme que tomei como base para o meu trabalho já é a tradução semiótica de um texto escrito, ou seja, o diário atribuido a Nijinski, ele também pode ser pensado como uma tradução da coreografia original produzida pelo próprio Nijinski, inspirada no poema de Mallarmé e no Prelúdio de Debussy. Observa-se assim, um labirinto complexo de espelhos sucessivos que poderiam ser analisados de infinitas maneiras. De qualquer forma, todo processo de semiose não poderia ser pensado como um jogo infinito de espelhos postos em abismo?
Palavras-chave: MISE IN ABYME, SEMIÓTICA, TRADUÇÃO, DANÇA
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