O que une o canto de Antônia às malhas do Conselheiro Krespel? Qual o mistério do violino de Cremona? Partindo da afirmação de Klaus Günzel (1979), segundo a qual foi através da música que E.T.A. Hoffmann (1776-1822) se tornou escritor, neste ensaio nos propomos a investigar a incorporação desta potência criativa em suas narrativas. Objeto de nossa análise será o conto "Rat Krespel" [O Conselheiro Krespel], escrito por Hoffmann há 200 anos e republicado em 1819 na coletânea "Die Serapionsbrüder" [Os irmãos de Serapião]. Nela os protagonistas analisam as próprias produções literárias à luz do Princípio Serapiôntico, uma teoria especular que traz na sua essência o princípio da écfrase. Jens Schröter (2011), Siglind Bruhn (2008) e William Kumbier (2001) são os teóricos que articulam as noções de intermidialidade de Clüver e Rajewski, oferecendo novas perspectivas para os estudos interartes e atualizando as noções de écfrase. Suas teorias iluminam a exploração musical dos procedimentos ecfrásticos adotados pelo autor e revelam um caminho para o estudo de uma arte metamimética, com Hoffmann, a arte de criar narrativas metamusicais.
Palavras-chave: E.T.A. HOFFMANN, CONSELHEIRO KRESPEL, ÉCFRASE, MÚSICA E LITERATURA