Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
RASTROS DA CONSTRUÇÃO DO AUTOR E DA OBRA NO ARQUIVO DE MACHADO DE ASSIS
LUCIANA ANTONINI SCHOEPS, VERÓNICA GALÍNDEZ
Dentro da proposta do simpósio “Arquivos, as fontes primárias e os periódicos”, a presente comunicação pretende debruçar-se sobre o primeiro dos três elementos, a fim de relacionar a materialidade dos manuscritos e outros documentos a questões preponderantes da teoria/crítica literária. Para tanto, trarei à tona alguns aspectos que podem ser levantados a partir do chamado “Arquivo Machado de Assis”, guardado na Academia Brasileira de Letras, a fim de nele observar um aspecto nem sempre ressaltado na escritura machadiana, a saber, o seu cuidado em construir uma determinada imagem autoral por meio da materialidade de seus livros. Dessa forma, mostrarei de que forma a preocupação com o aspecto material de sua obra – tamanho da fonte, qualidade da folha, quantidade de páginas do livro, escolha de foto do autor para ilustrar a obra, inclusão de prefácios, formatação do layout da capa do livro, entre outros – transparece como um elemento predominante não apenas na correspondência do autor com os editores, mas também no próprio manuscrito de sua penúltima obra, Esaú e Jacob. Nessa ênfase dada aos aspectos da produção física da obra enquanto objeto material, percebe-se a tentativa de construir a imagem de um autor pautada pela visualidade da obra, na medida em que uma obra bem acabada materialmente traduziria a qualidade de seu conteúdo e, consequentemente, a importância de seu autor. Nesse sentido, parece ser possível entrever nesse jogo de construção autoral efetivado por meio da materialidade da obra um autor que, contrariamente ao gênio romântico em voga no período de produção que lhe é imediatamente anterior, se mostra extremamente preocupado com a forma, com a valorização da escrita literária enquanto um trabalho quase que artesanal. Assim sendo, tal visão da literatura enquanto trabalho pode igualmente ser contemplada em outros documentos do referido acervo – que não serão explorados a fundo no âmbito dessa comunicação, mas serão apresentados a fim de ilustrar a hipótese aqui levantada – tais como em alguns fólios de anotações de leitura no manuscrito de O Almada, na reescritura dos fólios de alguns recortes de crônicas, arquivados pelo próprio autor, em raros relatos de pesquisas ligadas à feitura de obras presentes na correspondência e nas anotações de leitura de clássicos portugueses (publicadas por Mário de Alencar na Revista da Academia Brazileira em 1910 e 1911), demonstrando a existência de um trabalho de pesquisa, leitura e reescrita como inerente à produção literária machadiana.
Palavras-chave: MACHADO DE ASSIS, ARQUIVOS, IMAGEM AUTORAL, REESCRITA
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