A contista cabo-verdiana Orlanda Amarílis (Assomada, Cabo Verde, 1924/ Lisboa, Portugal, 2014) estreou no cenário literário em 1944, com a publicação de um texto crítico que promovia a igualdade dos gêneros e chamava a mulher para a escrita, cujo título é “Acerca da Mulher”. Da revista Certeza (1940) passou a escrita de peças teatrais nunca publicadas, mas premiadas em Goa, na Índia, na década de 1950. Em Portugal começou a publicar frequentemente os seus contos em antologias e revistas literárias, elegendo definitivamente aquele gênero para a sua atividade literária. Os temas dessas narrativas curtas são tanto excepcionais quanto cotidianos e relacionam-se diretamente à memória das vivências em Cabo Verde e as preocupações sociais no tocante à colonização e ao colonizado, as diferenças entre as classes e a posição da mulher nessas esferas da sociedade. Os contos amarilianos, apesar de figurarem na esteira do neorrealismo, não se constituem como literatura panfletária ou de tese, ao contrário disso, são, hoje, estudados como a produção mais rica da literatura cabo-verdiana, senão da produção feminina da África de língua portuguesa. As suas publicações avulsas datam desde a década de 70 até os anos 90 do século XX. Essa frequente participação na cena literária lusófona, além de confirmar a presença de Amarílis no corpus de escritores africanos da diáspora, afirma também uma posição política, fruto da sua atuação em determinadas organizações e associações de escritores. No entanto, o público atual não dispõe facilmente dessas publicações, ficando restritos somente aos livros de contos, também já esgotados nas livrarias. Ao recolhermos os documentos relativos às publicações avulsas da contista cabo-verdiana, publicados em antologias e revistas literárias, partimos da necessidade de agrupá-los em uma antologia sólida, tomando como ponto de partida a comparação entre as versões iniciais e as ditas definitivas. Ainda, averiguamos que, para além dos fatores sociais e políticos, há uma regra de escritura que se torna evidente quando comparamos esses textos inaugurais com aqueles que depois se tornariam parte de um livro de contos organizado pela própria escritora, quais sejam: Cais-do-Sodré té Salamansa, 1974; Ilhéus dos Pássaros, 1982 e A Casa dos Mastros, 1989, não considerando suas produções relativas à Literatura Infanto-Juvenil (Folha a Folha, 1987; Facécias e Peripécias, 1990; A Tartaruguinha, 1997). Os processos de escritura de Orlanda Amarílis são descortinados quando se seguem os seus percursos nas antologias e revistas de literatura em língua portuguesa. Levando em consideração a noção de que um periódico é ao mesmo tempo objeto de análise e fonte, colaborando, assim, para a reconstrução histórica necessária para abordar determinada obra, propomos aqui traçar um percurso amariliano. Para tanto, foi necessária a organização de um corpus referente às revistas e antologias, que se configurou desta maneira: O Texto Manuscrito (antologia), 1975; Colóquio-Letras (Revista), 1977; Escrita e Combate – textos de escritores comunistas (antologia), 1977; África – Literatura, Arte e Cultura (revista), 1978; Loreto 13- Revista Literária da Associação Portuguesa de Escritores, 1980; Afecto às Letras – homenagem da literatura portuguesa contemporânea a Jacinto do Prado Coelho (antologia), 1984; Contos – o campo da palavra (antologia), 1985; O Fantástico no Feminino (antologia), 1985; Onde o mar acaba (antologia), 1991; Oceanos (revista), 1992 e Vértice (revista), 1993. A partir dessas fontes propusemo-nos a [re]construir detalhadamente os processos de escritura de Orlanda, relacionando-os de forma crítica aos papéis sociais e políticos assumidos pela autora. Referências Bibliográficas: AMARÍLIS, Orlanda. Cais-do-Sodré té Salamansa. Coimbra: Centelha, 1974. _________________. Alegoria. In: Antologia - O Texto Manuscrito. Edições Avante!, Lisboa: 1975. __________________. Canal Gelado. In: Revista Colóquio Letras, nº39. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977. __________________. Desencanto. In: Escrita e Combate – textos de escritores comunistas. Lisboa: Edições Avante, 1977. __________________. Luísa filha de Nica. In: Revista África – Literatura, Arte e Cultura. Lisboa: África Editora, 1978. _________________. Requiem. In: Loreto 13- Revista Literária da Associação Portuguesa de Escritores, nº4. Lisboa: Tecniset, 1980. _________________. Ilhéu dos Pássaros. Lisboa: Plátano Editora, 1982. __________________. Tosca. In: Afecto às Letras – homenagem da literatura portuguesa contemporânea a Jacinto do Prado Coelho. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1984. __________________. Bico-de-Lacre. In: Contos – o campo da palavra. Lisboa: Editorial Caminho, 1985. __________________. Laura. In: O Fantástico no Feminino. Lisboa: Edições Rolim, 1985. __________________. A casa dos Mastros. Linda-a-Velha: Edições ALAC, 1989. __________________. Josefa de Sta Maria. In: Onde o mar acaba. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1991. _________________. Josefa de Sta Maria. In: Revista Oceanos. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1992. _________________. Mutações. In: Revista Vértice, nº55. Lisboa: Editorial Caminho, 1993.
Palavras-chave: PROCESSO DE ESCRITURA, LITERATURA CABO-VERDIANA, CONTOS DISPERSOS, REVISTAS LITERÁRIAS