Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ESPAÇOS DE LEITURA EM JORNAIS OITOCENTISTAS
VALDINEY VALENTE LOBATO DE CASTRO, GERMANA MARIA ARAÚJO SALES
A leitura, no final do século XVIII e início do XIX, esteve restrita aos livros que, com certa dificuldade chegavam ao Brasil. A pouca população alfabetizada interessada pela leitura precisava aguardar os volumes serem liberados pela Real Mesa dos Censores em Portugal para só depois chegarem ao Brasil, processo demorado que atrelado aos poucos espaços disponíveis para a venda das obras e a precária instrução da população poderia significar uma falência do hábito de ler. No entanto, as mudanças produzidas na cidade do Rio de Janeiro, principalmente as que ocorreram com a chegada da família real, possibilitaram um amadurecimento desse público leitor que, avidamente, buscava as novidades européias. Entre essas mudanças, a instalação da Imprensa Régia, em 1808, foi crucial para favorecer a leitura, pois deu origem a Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal da cidade, onde se divulgavam as notícias oficiais e suporte responsável pela publicação de alguns títulos, mais rapidamente disponibilizados aos leitores cariocas. O jornal tornou-se o principal veículo de comunicação em todo o país, o que justifica a vasta proliferação de periódicos e a sua circulação entre as províncias, facilitada por meio das estradas de ferro. Seguindo o modelo francês, os jornais incorporaram em sua nota de rodapé, os capítulos dos romances seqüenciados, o que catalisado pela força de penetração que o jornal possuía tornou-se, em muitos suportes, a seção mais aguardada, daí surgirem jornais em que os folhetins eram a seção principal, sendo até mesmo publicada mais de uma história por edição. Com esse sucesso o jornal ganha status atraindo autores renomados para colaborar em suas colunas e divulgando as principais notícias literárias da época, por isso muitas obras foram, inicialmente, publicadas em regime seriado nas colunas dos jornais e só posteriormente saíram em livros. A literatura lançada nos jornais atraiu ainda mais o interesse do público para o suporte que se tornou responsável pela democratização da leitura em todo o país: era fácil pra transportar, com notícias sempre atuais, histórias mais curtas e muito mais barato que o livro. Assim como a sociedade carioca foi tomada pela leitura das folhas diárias, as personagens das prosas de ficção também estiveram envolvidas no mundo dos periódicos como proprietários, colaboradores ou simplesmente leitores. Se a literatura favorece a consolidação da relação entre a leitura e o suporte, o mesmo acontece com o jornal: diversas notícias publicadas naquela época revelam o fortalecimento da leitura dos textos literários. Diante disso, o objetivo deste estudo é analisar o fortalecimento da leitura no século XIX a partir das personagens leitoras de jornais e dos anúncios sobre leitura publicados nos periódicos da época, a fim de compreender as condições de leitura do texto literário, perceptíveis tanto pelas notícias colhidas nas folhas diárias, quanto pela ressignificação dessa relação a partir do texto ficcional.
Palavras-chave: JORNAL, SÉCULO XIX, RIO DE JANEIRO, PROSA DE FICÇÃO
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