A presença das literaturas africanas no Brasil se manifestou de modo lento e com iniciativas isoladas por parte do mercado editorial brasileiro. Entre as primeiras obras publicadas no país estão os romances Terra Morta (1949) e A chaga (1970), de Castro Soromenho, pela Civilização Brasileira; Um fuzil na mão, um poema no bolso (1974), de Emamnuel Dongala, O velho negro e a medalha (1975), de Ferdinand Oyono, pela coleção Romances da África da Nova Fronteira; e Poemas de Angola (1976), Agostinho Neto, pela Codecri. Apenas com o projeto Autores Africanos, da Ática - série dirigida por Fernando Augusto Albuquerque Mourão, docente e pesquisador aposentado do departamento de Sociologia da USP -, que foi possível a concretização de um lançamento orgânico de uma produção literária composta por diversos escritores do grande continente africano, compondo uma espécie de mapa literário das produções africanas. Assim, através do acesso à biblioteca de Mourão, almejamos apresentar como a antologia, e as literaturas africanas de modo geral, foram divulgadas em alguns periódicos nacionais a angolanos, a partir da análise das fontes documentais pertencentes ao seu acervo pessoal. Entre os materiais já encontrados, verificam-se: A desconhecida literatura africana chega ao Brasil, da Folha de São Paulo; Fernando Mourão e como se dá a conhecer a África no Brasil, do Jornal de Angola; África, a autodescoberta de uma cultura e Brasil descobre a literatura africana, em O Estado de São Paulo; O mapa da África em meia centena de romances atuais: a Ática retoma um programa iniciado pela Nova Fronteira, do Jornal do Brasil; Ouçamos as vozes d’África, da Revista Visão etc. A concepção da Coleção Autores Africanos (CAA) só foi possível em função da parceria entre o então presidente da Ática, Anderson Fernandes Dias, e Mourão, que na época, além de professor da USP, já estava envolvido com outras frentes de trabalho relacionadas à África, como na direção do Centro de Estudos Africanos, na edição da Revista África e como integrante do Comitê Científico da UNESCO, responsável pela elaboração da coletânea História Geral da África. Para o lançamento da antologia, Mourão seleciona obras que, primeiramente, possibilitassem um olhar sobre o colonialismo português, tal como o romance A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira. Posteriormente, como uma segunda linha de trabalho, enfatizou os títulos que remetessem a problemas sociais: Nós Matamos o Cão-tinhoso, de Luís Bernardo Honwana; Os Flagelados do Vento Leste, de Manuel Lopes; Hora di Bai, de Manuel Ferreira. Numa terceira linha, temos a considerada “literatura de combate”, representada, sobretudo, por Mayombe, de Pepetela. A quarta fase, explorou os problemas linguísticos resultantes da colonização, presentes em: Kinaxixe, de Arnaldo Santos; “Mestre” Tamoda, de Uanhenga Xitu; e Luuanda, de Luandino Vieira. Deste modo, salientaremos a presença da CAA nos periódicos, rastreando-a nos conjuntos de arquivos do acervo pessoal de uma das figuras incontornáveis da intelectualidade brasileira. Para assim, verificarmos uma das várias histórias que cruzam os mapas literários de Brasil e África.
Palavras-chave: COLEÇÃO AUTORES AFRICANOS, FERNANDO AUGUSTO ALBUQUERQUE MOURÃO, LITERATURAS AFRICANAS, PERIÓDICOS