JOSÉ FRANCISCO DA SILVA QUEIROZ, GUNTER KARL PRESSLER
Qualquer proposta de estudo historiográfico que se pretenda investigar a literatura produzida no Brasil no início do século XX tem a necessidade de confirmar as “narrativas” que tratam do “triunfo do modernismo brasileiro” (GOUVEIA, 2013). Como metodologia inconsciente todo pesquisador deveria iniciar seu trabalho investigativo reafirmando a vitória dos valores estéticos de vanguarda sobre a literatura “acadêmica”. Nas últimas décadas vários estudos (ARAÚJO, 1995; DE AZEVEDO, 1995; PONTES DE AZEVEDO, 1996; SANT’ANA, 2003; DE MORAES, 2004) foram publicados dando conta da integração ou da adesão das “províncias brasileiras” ao movimento reformador prenunciado pela Semana de Arte Moderna e historicamente aceito com a institucionalização dos Cursos de Letras. Essas obras compõem a tentativa de dar visibilidade a outros “modernismos”, que agora devidamente catalogados comporiam uma grande e hegemônica narrativa da modernização cultural brasileira. Unindo-se a esse espírito de celebração da “democratização do avanço literário” algumas teses de doutorado (FIGUEIREDO, 2001; COELHO, 2003) elegeram, dentro do cenário cultural de Belém do Pará, a Associação dos Novos (1920 – 1926) como o órgão precursor da novidade literária na Amazônia. Os membros desse grupo de intelectuais criaram uma sofisticada “rede social” que os possibilitava defender seus interesses estéticos, promover suas publicações (coletivas ou individuais) e atuar dentro do cenário político e cultural de Belém como detentores de uma verdade literária. Respaldando a atuação desse grêmio literário a revista Belém Nova (1923 – 1929?) passou a ser investigada como a fonte documental principal que sustentaria a dinâmica de movimentação revolucionária dos Novos. Juntamente ao magazine citado cartas, jornais e opúsculos publicados pelos membros da Associação correspondem ao acervo utilizado para construir “uma narrativa de legitimação do conhecimento acadêmico” (LYOTARD, 1984). A fim de manter e aperfeiçoar um paradigma de larga produtividade conceitual muitos documentos essenciais para se entender a dinâmica de circulação da ideologia modernista em Belém foram omitidos, manipulados ou editados para expressarem por meio da Associação dos Novos “a adesão do Pará” ao Modernismo nacional. Ao contrário do que a “narrativa oficial” afirma a Associação dos Novos mostrou-se como um núcleo de escritores conservadores que utilizavam a imprensa para criticar as obras publicadas pelos autores modernistas de São Paulo. Nossa proposta de artigo proporá uma “contranarrativa” que explique como se desenvolveu o processo de “invenção do modernismo paraense” ao trazer para o debate historiográfico outras fontes primárias, além de propor uma releitura do material que serviu para a institucionalização de mais um ramo do modernismo brasileiro.