Gênero problemático no meio do caminho entre a história, destinada à coletividade, e a criação romanesca, dedicada à singularidade, o que é uma biografia? No sentido raso do termo, "o biográfico" designa a reunião de textos contando a vida de uma pessoa. Esses percursos de vidas são considerados "referenciais", opondo-se às obras de ficção ? como o romance, o conto ou a novela. A etimologia do termo "biográfico" destaca a palavra grega bio que remete à vida, definida como "o conjunto das atividades ou acontecimentos que completam para cada indivíduo o espaço e o tempo compreendido entre a vida e a morte". A segunda raiz grega graphie, em contrapartida, acentua o fato de o biográfico dizer respeito primordialmente à escritura. O biográfico seria, então, uma vida que se escreve ou que é escrita. Philippe Lejeune prefere empregar a expressão "campo" ou "espaço" biográfico, ampliando suas pesquisas sobre a autobiografia às "narrativas de vidas sob todas suas costuras”. Com o fito de compreendermos as reflexões contemporâneas sobre a problemática questão, nossa proposta é de associar a gênese da produção de (auto)biografias ao advento renascentista da arte do retrato, trazendo ao debate as formulações singulares do cogito cartesiano, o processo de ascensão da burguesia e a inscrição do sujeito no incontornável conceito moderno de autonomia.
Palavras-chave: (AUTO)BIOGRÁFICO, RETRATO, SUJEITO, AUTONOMIA