A “modernidade” vem sendo discutida, de forma interdisciplinar, ao longo de décadas. No entanto, o que se sabe é que não há uma definição cabal sobre ela e que, nas diferentes áreas do conhecimento, a definição adotada é sempre provisória. É com Baudelaire que a palavra “modernidade” realmente se fixa. Só depois do emprego que Baudelaire faz dela, e a define nos seus textos, que o conceito passa a ser discutido. Em “O pintor da vida moderna” (1859-60), obra de maturidade do poeta francês, a modernidade é definida como efêmera e fugidia, mas também como eterna e imutável. Baudelaire define modernidade como o caráter contraditório dos novos tempos. Baudelaire viveu em um momento histórico propício que lhe permitiu participar das transformações que a belle époque operou em Paris - que nas palavras de Benjamin, era a capital do Século XIX. O poeta presenciou as grandes transformações na estrutura da cidade, operadas por Haussmann, e viu eclodir as rápidas transformações ocasionadas pela Revolução Industrial. Décadas mais tarde, no Brasil, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade foi quem viveu um período de grandes transformações e, assim como o poeta francês, foi sensível a elas. Drummond vivenciou a mudança do campo para cidade, saindo de Itabira-MG, cidade provinciana, passando por Belo Horizonte-MG, projetada para ser industrial, para fixar residência na então capital do país, a cidade do Rio de Janeiro-RJ. Assim como Baudelaire, o poeta brasileiro esteve no centro das transformações sociais da modernidade e, durante praticamente todo o século XX, escreveu sobre as transformações que esse cenário vivia. Notadamente, são muitos os pontos de encontro na poesia dos dois Carlos, elas se interseccionam em muitos motes e nitidamente Drummond bebe da fonte baudelairiana, fazendo ecoar no decorrer do século XX traços do trabalho poético iniciado por Baudelaire no século XIX. Esse novo mundo, industrial e urbano, operado pelo sistema capitalista, figura na obra dos poetas modernos, o que nos leva apontar nesta comunicação, por meio de um panorama das obras de Charles Baudelaire (1821-1867) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), quais são os pontos de contato na poesia dos dois Carlos e como o poeta parisiense influenciou na obra do poeta brasileiro. Para isso, buscamos os motes em comum na poesia de ambos, sobretudo na importância que a cidade assume nessa época denominada “modernidade”, sendo palco onde a poesia se encena. Buscamos mostrar também como a experiência com a linguagem poética de ambos os autores se tangenciam e de que forma elas se aproximam.
Palavras-chave: MODERNIDADE, CHARLES BAUDELAIRE, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE