Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
EPÍGRAFES FRANCESAS/EM FRANCÊS NO ROMANTISMO BRASILEIRO
MARIA CLÁUDIA RODRIGUES ALVES
O uso das epígrafes sempre foi uma forma de os escritores brasileiros demonstrarem sua admiração pelos escritores estrangeiros, sobretudo franceses. Prática retomada no século XVIII em literatura e, no Brasil, por nossos Árcades, encontra seu apogeu no século XIX. Os escritores românticos brasileiros foram grandes utilizadores desse recurso de inclusão do paratexto. Trechos de escritores franceses ou mesmo de outra nacionalidade, porém, em francês, sobejam em obras do século XIX no Brasil. Se por um lado, no decorrer do Romantismo brasileiro, observa-se que esse procedimento foi pouco a pouco se diluindo, por outro lado, pode-se ainda facilmente verificar, em um rápido levantamento, que a porcentagem de epígrafes francesas/em francês foi extremamente importante até o final do século. Gonçalves Dias epigrafou 95 vezes seus escritos e as epígrafes francesas/em francês (33) são superiores às de língua portuguesa (21). Já em Álvares de Azevedo, um autor, convenhamos, “exagerado” e “intenso”, encontramos 125 textos epigrafados, dos quais 43 são de origem francesa. Das aproximadamente 70 epígrafes encontradas na obra em Castro Alves, quinze são em língua estrangeira, sendo dez em francês. Muitas são as motivações para a utilização de uma epígrafe: inicialmente cremos que se trata de uma homenagem, já que o conceito de imitação passa pela admiração, respeito, consideração pelo “imitado”. Trata-se de uma reverência que deve aproximar epigrafador de epigrafado, constatando uma afinidade e, com certeza, a revelação de um precursor. O autor epigrafador confere também autoridade canônica ao autor epigrafado, elemento importante na busca da identidade literária brasileira. Homenageando-o, o escritor brasileiro revitaliza igualmente a obra do artista epigrafado e avaliza, assim, sua própria obra. Ao fornecer um panorama desse recurso literário, observando mais atentamente a relação que se estabelece entre texto epigrafado e texto nacional, interessa-nos verificar de que maneira os escritores brasileiros evoluíram, tornando-se mais ousados, passando da admiração e homenagem a uma certa antropofagia literária, precursora de nosso Modernismo.
Palavras-chave: RELAÇÕES BRASIL-FRANÇA, EPÍGRAFES, PARATEXTO, ROMANTISMO
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