Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A PRESENÇA DOS ESTUDOS DE LITERATURAS ESTRANGEIRAS NOS ENSAIOS CRÍTICOS DE ÁLVARES DE AZEVEDO: PRIMÓRDIOS DO COMPARATISMO NO BRASIL
NATÁLIA GONÇALVES DE SOUZA SANTOS
O escritor romântico Álvares de Azevedo (1831-1852) escreveu, em torno do ano de 1850, quatro ensaios críticos, que funcionam como um complemento de sua atividade literária, desenvolvendo questões caras ao movimento romântico de forma ampla e, de maneira lateral, à sua manifestação brasileira. Neles, fica patente a leitura atenta que o autor faz dos periódicos literários em circulação no período, sobretudo os de origem francesa, e que se materializa por meio de citações e paráfrases referenciadas, relativamente abundantes, vindo a contribuir para o embasamento do debate proposto pelo autor. Desse conjunto, selecionamos, para esta comunicação, o ensaio “Literatura e civilização em Portugal”, por ser aquele em que as referências textuais são mais acentuadas, explicitando o diálogo com um grupo específico de autores, tais como Jean-Jacques Ampère, Xavier Marmier e Edgar Quinet, que ocupavam cadeiras universitárias de literaturas estrangeiras, inauguradas na França em 1830 e desativadas a partir de 1900. Consideradas como ancestrais do comparatismo literário do século XX, as disciplinas ministradas por esses críticos iniciam uma primeira onda sistemática desse viés investigativo, em território francês, que se apoia, em larga escala, nas reflexões oriundas da Alemanha. A abordagem do texto literário utilizada por esses professores valia-se consideravelmente da filologia, que buscava, de maneira geral, fazer a anatomia de diferentes línguas europeias, a fim de determinar suas origens, desenvolvimentos e intersecções, revelando, assim, ligações linguísticas e culturais insuspeitas entre os povos do continente europeu. Combinados ao historicismo e à teoria dos espíritos nacionais, tais estudos ofereceram uma perspectiva cosmopolita para se pensar a literatura, que é bastante pertinente num contexto político, nem sempre pacífico, de constituição de nações. Esse cosmopolitismo se baseia na diferença como traço comum entre as diversas comunidades, pontuando que o reconhecimento de si se dá por meio de um processo de alteridade, no qual a interdependência cultural e a circulação de ideias são imprescindíveis. Ao citar artigos de Ampère, Marmier e Quinet, professores de literaturas estrangeiras que publicaram na Revue des deux mondes, a partir da década de 1830, Álvares de Azevedo parece compartilhar desse anseio de abertura ao exterior, na tentativa de proposição de um projeto literário múltiplo à literatura brasileira, não circunscrito ao localismo. Nesse sentido, a própria construção formal de “Literatura e civilização em Portugal” sugere o compartilhamento de uma herança cultural secular, na qual nossa ex-metrópole desempenha um papel decisivo, e que é comunicada a nós, por meio dos vínculos linguísticos que nos unem a esse país. Tal herança deveria, assim, segundo Azevedo, ser convenientemente apropriada por nossos escritores do oitocentos para a fundação de uma literatura nacional. Analisando essas questões, o objetivo dessa comunicação é discutir as consequências trazidas pela transferência desse arcabouço teórico ao debate crítico proposto por Álvares de Azevedo em “Literatura e civilização em Portugal”, notadamente no que tange à percepção das trocas culturais existentes entre as mais diversas literaturas, verificável, inclusive, entre as literaturas matriciais.
Palavras-chave: ÁLVARES DE AZEVEDO, PERIODISMO, LITERATURAS ESTRANGEIRAS, TRANSFERÊNCIA CULTURAL
voltar