CESAR AUGUSTO LÓPEZ NUÑEZ, MYRIAM ÁVILA CORRÊA DE ARAÚJO ÁVILA
O mito é sempre uma narração que procura explicar o universo, o mundo e o lugar do homem nesses dois espaços. Nesse sentido, os poderes do mito não se têm perdido com o tempo, mas se têm transformado em premissas muitas vezes abstratas que nos conduzem a esquecer sua permanência na vida prática do homem. A velha imagem da luz foi empregada no mito judaico do Gênese, na alegoria platônica da caverna, até o Iluminismo kantiano e continua tendo vigência na hora de pensar os regimes de visualização do mundo como pensou Foucault. Mas, o que quer dizer tudo isto? Que o mito é uma proposta de compreensão do ser e de sentir o ser. A relação do mito e da estética é muito antiga, porque o que procura toda narração é gerar modos de sentir a uma comunidade. Em outras palavras, o que sentimos pertence a um regime de ontológico que tem sido contado e assimilado por um grupo humano. Finalmente, todo sentir implica um modo de agir, de administrar as potências do mundo que sem problemas poder-se-ia chamar de política. Em um processo, mais ou menos inverso, para compreender esta, teríamos que retroceder até os seus princípios ontológicos (míticos) para estabelecer um possível diálogo. O marco de leitura das terras colonizadas foi sempre aquele oferecido pela mítica hegemônica ocidental, quer dizer, o grande sistema judaico-cristão e grego-platônico. Isto nos conduz a reconhecer que jamais, ou poucas vezes, se tem lido América Latina com suas próprias (porque não temos apenas uma) ontologias, estéticas e políticas. Eis aqui a pertinência de algumas literaturas que tentam recuperar os princípios hermenêuticos que ainda sobrevivem. Os casos que podemos citar são O Guesa de Sousândrade, Grande Sertão: Veredas de João Guimaraes Rosa, Pedro Páramo de Juan Rulfo, El pez de oro de Gamaliel Churata, El zorro de arriba y el zorro de abajo de José María Arguedas etc. Em nossa comunicação exporemos a relação entre o mito, estética e política e a sua relevância no labor da criação literária. A base teórica empregada será a proposta de conceitos de Deleuze e Guattari, como rizoma, desterritorialização, devir, por exemplo. Por outra parte, em relação às ontologias ameríndias que guiam alguns textos, partiremos dos aportes de Eduardo Viveiros de Castro, como perspectivismo e multinaturalismo. Assim, o nosso interesse se concentrará em propor uma crítica ao molde monológico e homogeneizante, sem esquecermos o valor desse molde e seus limites metodológicos.