Em “Josefina, a cantora ou O povo dos camundongos”, Franz Kafka coloca em primeiro plano o lugar do artista e da obra de arte numa fábula na qual a própria experiência da literatura se encontra, segundo Deleuze, sob novos paradigmas, já distantes de uma estética. A literatura menor de Kafka, simbolizada perfeitamente no conto, requer desdobramentos que ultrapassam o estatuto tradicional da cultura e da arte. Resta, portanto, pensar a respeito da dimensão do artista, do público e da obra numa comunidade que não permite mais a plena existência daquilo que Walter Benjamin chamou de aura. A obra de Kafka em questão parece desenhar o limite da trajetória que a arte moderna percorreu e, assim, evidenciar a natureza dos impasses vividos pelos artistas e escritores durante o último século. Nesse sentido, levantaremos, nesta apresentação, algumas reflexões que versam sobre a figura do artista e o gesto artístico no conto, procurando pensá-los em diálogo, especificamente, com a chamada arte de vanguarda europeia. É a partir da concepção e dos propósitos artísticos das vanguardas do início do século XX que, na literatura kafkiana, encontramos o espaço para a possível formulação dos aspectos de uma arte que se distancia dos cumes da estética, para visualizar, numa arte menor, as perspectivas políticas, portanto éticas, às quais ficou destinado o percurso da obra de arte em nosso tempo. Ao pensar as noções fundamentais presentes na teoria da arte das vanguardas, Boris Groys toma o “universalismo fraco” como a chave com a qual podemos esboçar os aspectos filosóficos de obras como as de Franz Kafka e dos artistas de vanguarda. Autores como Agamben e Zizek fornecerão também, do ponto de vista filosófico, as concepções necessárias para desenvolvermos a pesquisa no sentido de entender o pensamento sobre a arte e a literatura, especialmente a obra de Kafka, numa leitura política e não mais puramente estética. Apagaremos, com isso, as fronteiras entre a ética e a estética, assim como Josefina, a cantora de Kafka, dissolve todos os possíveis limites entre a arte e o povo.
Palavras-chave: FRANZ KAFKA, VANGUARDAS, ESTÉTICA, POLÍTICA