A poesia de José Joaquim Cesário Verde (1855-1886), tendo surgido no auge do ideário positivista e avançado até os primeiros sinais de sua crise, não apenas antecipa essa crise, como, também, configura uma antecipação do paradigma que lhe sucederia a partir das primeiras décadas do século XX em decorrência das novas descobertas da física, como afirma José Carlos Seabra Pereira, no artigo “Cesário Verde, um realismo insatisfeito” (1987-88). O nosso objetivo é aprofundar essa tese, explorando seus possíveis desdobramentos estéticos. Partindo das contribuições mais recentes da crítica cesarina, tentaremos aproximar essa “antecipação de um novo paradigma epistemológico e ontológico” – que Boaventura Sousa Santos, em Um discurso sobre as ciências, classifica como “um saber de matriz idealista e com uma reconhecida dimensão estética” – apontada por Pereira na poética de Cesário, àquilo que Haroldo de Campos afirmou ser a entrada da arte “no horizonte do provável”, e que Umberto Eco definiu como a “abertura da obra aberta”, ou seja, uma concepção de obra cujos procedimentos estéticos estão explicitamente relacionados a determinados procedimentos metodológicos da ciência contemporânea. Por fim, pretendemos demonstrar como a referida antecipação pode ser entendida no contexto do niilismo finissecular oitocentista.
Palavras-chave: POESIA PORTUGUESA, SÉCULO XIX, ESTÉTICA, EPISTEMOLOGIA