O presente trabalho objetiva (re)pensar as características conceituais, que viabilizam delineares éticos e estéticos, da metáfora na obra do escritor argentino Jorge Luís Borges. Nossa leitura parte de uma concepção rítmica (PAZ, 2012), vocálica (CAVARERO, 2011) paradoxal da linguagem e pautada na ideia Derridiana de rastro (DERRIDA, 1973), uma vez que, a metáfora para Borges, levando em consideração suas conjecturas ensaísticas e intuindo-as em seus demais textos ficcionais, não constitui-se sob a ótica binária metafísica do sensível e do não sensível, do sentido literal e figurado, mas tem em um contrato rítmico e corpóreo da voz a potencialidade que faz com que a palavra prescinda de significações fixas e lineares. Assim, Borges subverte a lógica logocêntrica que se imprime nos tradicionais estudos sobre o tema e aponta para uma noção mais voltada para a corporeidade da palavra e das sensações vocálicas das expressões, que precedem qualquer construção simbólico-imagética e que (pre)excedem qualquer possibilidade pela busca de uma relação fixa entre significante e significado. A metáfora nesses termos, tem mais a ver com a palavra como ato (como intui Hannah ARENDT) do que com o conceito (como queria Aristotéles). Considera-se, portanto, que a obra do escritor argentino aponta para novas leituras de uma ontologia da metáfora fundamental para se repensar o sentido, a linguagem e a própria literatura. Na perspectiva da “transa” tramada entre literatura e filosofia nos textos do autor, buscamos pensar o conceito de metáfora presente tanto em textos ensaísticos como “las Kenningar” e “la metáfora” – considerando sempre o caráter híbrido entre os gêneros textuais para Borges – E no poema "Versos de Catorce", do livro Luna de Enfrente. Esse conceito poeticamente elaborado tanto nos ensaios quanto nos contos (que poderíamos chamar de prosa poética) aponta esteticamente para uma dimensão política da palavra, cuja potencialidade é advinda da voz de uma singularidade que fala. Borges dimensiona nos ensaios citados uma concepção de metáfora vocálica, intraduzível e sem pretensões de repetição. Dessa forma, convidamos à discussão o pensamento de Derrida, no que tange à constituição da linguagem a partir das “dessemelhanças” que se estabelecem entre os signos em detrimento da relação que esses signos instauram com os objetos que indicam. Derrida considera a diversidade propiciada pela linguagem, bem como a significação como sendo resultado de um jogo de diferenças estabelecidas entre seus elementos. Propomos, assim, pensar a metáfora Borgena no campo da ética, uma vez que aponta para o repensar de uma questão central no panorama da cena filosófica contemporânea que é a questão da linguagem.