PATRÍCIA VALÉRIA VIEIRA DA COSTA, ELI BRANDÃO DA SILVA
A afirmação de que há uma relação entre a filosofia e a literatura não é um mero acaso. Através de uma observação mais acurada, a análise destas ciências autoriza a impressão de que ambas caminham sempre unidas, permitindo-nos conjecturar acerca da existência de traços do pensar filosófico na literatura, ao passo que esta última também assume uma característica refratora de grandes debates oriundos da filosofia. Esta relação origina reflexões a partir das quais o texto literário é o meio pelo qual podemos meditar sobre aspectos filosóficos. Desse modo, na intenção de realizar um estudo que parta da interface literatura-filosofia, esse estudo pretende discorrer sobre a possibilidade de considerar a reflexão memorialística, o retorno ao passado, como a condição trágica do homem contemporâneo. Objetivamos, por meio da poética de Francisco José Dantas, em específico nos seus romances intitulados de Coivara da memória (1991); Cartilha do silêncio (1997); e Sob o peso das sombras (2004), partir da criação literária para uma reflexão sobre a existência, no que concerne em analisar, à luz das concepções do trágico na contemporaneidade, a condição do homem que, abandonado e profundamente solitário, locado num presente esvaziado e sem perspectivas de futuro, recorre ao passado para remoer uma vida de dor, como último ato de autoflagelamento e, paradoxalmente, reafirmação de vida. Para tanto, faremos uso dos aportes teórico-filosóficos de autores como Williams (2002), Eagleton (2013), Sarrazac (2013) e outros.