Esta comunicação ambiciona, de forma concisa e abrangente, circunscrever dialeticamente a situação trágica da condição humana. Deu-se andamento as reflexões por meio das evidências míticas do princípio, na religião dionisíaca, em um mundo homogêneo, e como se conquistou a solidão da individualidade pela produtividade do espírito, como argumenta Lukács (A teoria do romance). A solidão é salientada enquanto essência do trágico. A religião, por sua vez, se configura como uma resposta, um sintoma, da nostalgia humana do paraíso perdido que, de uma forma ou de outra, todas as religiões se voltam. Tal questão é acompanhada da reflexão em torno do nascimento da tragédia e do drama no convívio mítico de Dioniso e Apolo nesse processo, como pensou Nietzsche. A tensão do sentimento de incompletude e o desejo de unidade criaram condições propícias à ideia do Deus único. De tal tensão surgem as máscaras sociais e a consciência da impotência que não encontra limite, suscitando, pois, uma aproximação com a onipotência. Pensou-se a transformação operada na religiosidade do mundo arcaico ao domínio cristão, notadamente com Eliade (o sagrado e o profano), bem como o surgimento das demais instituições nesse processo, a palavra, a cidadania e a democracia, como básicas a tal reformulação, fundamentalmente a ideia que se tem de Deus. Neste ponto, Nietsche (Nascimento da tragédia, Genealogia da moral e Ecce homo) serviu como argumentação. A questão crucial que permeou as reflexões foi o avanço da racionalidade até ao racionalismo das ambições burguesas, em detrimento, como se defendeu, a nossa natureza irracional como está no pensamento de Miguel de Unamuno (Do sentimento trágico da vida). Queremos dizer que se a razão absorve o sentimento, por vezes tensamente, o que configura a nossa condição trágica, o racionalismo afoga o sentimento em nome de valores pragmáticos da sociedade voltada para o consumo e o lucro. Ora, da individualidade como resultado para a sobrevivência e calcinada pela convivência, construímos a individualidade pressionada por forças arquetípicas, isto é, a nossa individualidade que anseia pelo espírito de comunidade tão confortável, que foi perdido se depara, agora, com a nova comunidade, reconstrução da primeira, mas tomada pelo racionalismo, muito diferente da razão clássica. E alimentamos a própria máquina que nos escraviza o que insere mais lenha na fogueira da situação trágica. Ainda, refletimos a força do destino, ou seja, uma ideia de fatalidade que retornou na pós-modernidade, que inscreve o homem num contexto que o determina, a predestinação a ser isto ou aquilo, como defende Michel Maffesoli. Encaminhou-se tal reflexão, considerando a tensão desde sempre entre moira (destino) e anaké (necessidade). Refletiu-se o retorno do trágico na pós-modernidade, como argumenta Maffesoli: o fim das utopias instaurou um presente eterno, conforme vicejava no mundo arcaico e terminamos, por fim, destacando a sabedoria trágica, tal como se identificou na filosofia nietzschiana.