A comunicação tem como objetivo refletir, a partir das discussões fenomenológicas propostas por Hegel do herói infeliz, sobre as múltiplas impossibilidades dos sujeitos, através de suas experiências, na análise comparativa de duas obras, "Marginais", do cabo-verdiano Evel Rocha (2010), e "O diário de um hermafrodita", da francesa Herculine Barbin (1978). A progressão do herói, cada vez mais autoconsciente, que levaria ao saber absoluto, como discute Hegel no texto "Fenomenologia do Espírito" (1988), é um interessante caminho reflexivo sobre os protagonistas das duas narrativas, Sérgio Pitboy e Herculine Bardin. Nesse sentido, questiona-se: A progressão dos personagens os levaria a um saber absoluto de suas impossibilidades? Em que medida a autoconsciência não indeterminaria suas vidas, suas trajetórias? Ademais, como as duas obras discutem as questões de gênero, como as relações homoafetivas e seus conflitos, a comunicação também terá como objetivo um diálogo entre as reflexões de Hegel com o pensamento de Judith Butler. Em “Subjects of Desire” (1987) Judith Butler, enquanto leitora e estudiosa do pensamento hegeliano, propõe a discussão fenomenológica concatenada às reflexões de gênero. Assim, a teórica questiona o pensamento de Hegel no sentido de compreendê-lo que é possível pensar no herói infeliz apenas enquanto homem, não abrindo a possibilidade para suas diferenças. Além disso, enquanto Hegel entende a progressão do herói como um caminho para a autoconsciência, para Butler, somente a partir desse percurso que será possível a criação de sua identidade. Nesse sentido, Butler traz uma reflexão interessante para a comunicação, visto que os personagens das duas narrativas são sujeitos que vivenciam suas múltiplas identidades, ainda que de forma complexa. A discussão não terá como foco principal o gênero literário, mas sim o discurso, a narrativa. Entretanto, o conceito de “Bildungsroman”, o romance de formação, será interessante para fundamentar o processo de consciência e identidade dos personagens, que os levaria ao saber absoluto. Ainda que o romance de formação seja mais bem exemplificado na primeira obra, “Marginais”, visto que o texto é narrado em primeira pessoa, onde o personagem principal, Sérgio Pitboy, conta sua trajetória desde menino pelos bairros periféricos da Ilha do Sal, em Cabo Verde, também é possível encontrar elementos desse conceito em “O diário de um hermafrodita”, pois a personagem também narra sua trajetória de vida, ainda que seja um diário, e não um romance. Portanto, alguns questionamentos serão feitos, a partir das duas obras escolhidas, mais o arcabouço teórico selecionado, tais como: O movimento dialético de erros e acertos encontrados nas histórias desses personagens os levaria para que tipo de esclarecimento sobre suas vidas? Se os caminhos construídos afirmam as impossibilidades aos dois personagens, o saber absoluto da autoconsciência não desencadearia para um desencanto sobre a vida, a partir de uma consciência infeliz? Essas são algumas reflexões que serão discutidas na comunicação.