O trabalho pretende apresentar considerações a respeito do Fausto de Pessoa, introspectivo, em contraponto ao Fausto de Goethe, que apresenta a religiosidade como possível salvação. Como afirma Eduardo Lourenço, no prefácio ao Fausto de Fernando Pessoa: “o Lucifer é personagem pouco necessário no seu poema, pois nele não há nem disputa com Deus a propósito do Homem, como no Fausto de Marlowe e ainda no de Goethe, mas mesmo nenhum diálogo, uma vez que a realidade infernal é o próprio pensamento”. A solidão e o horror de deparar-se com a realidade são os conflitos que o protagonista de Pessoa enfrenta ao longo do poema, sem conseguir e nem mesmo almejar sair de sua subjetividade, o oposto do Fausto goetheano, que lida com conflitos internos e externos a ele, conseguindo sua salvação por meio da interseção religiosa. A figura de Mefistófeles não aparece na tragédia, uma vez que, “o ‘seu’ Fausto é, ao mesmo tempo, pura vertigem ontológica e pura solidão” (LOURENÇO, 2013, p. 24). O autor português trava uma batalha interior, na qual todos os personagens estão condensados na aventura psicológica desse Fausto essencialmente subjetivo. Enquanto o Fausto de Goethe se relaciona com o divino e chega a receber a salvação mesmo tendo feito o acordo com Mefistófeles, o autor português interioriza mais uma vez esse elemento, trazendo para dentro de si mesmo a existência divina: “Deus. A apreensão de si mesmo como eu em toda a sua plenitude, ser puro e pura luz, em suma, deus de si próprio” (LOURENÇO, 2013: p. 18). A interiorização dos conflitos e a constatação do desdobramento de si mesmo suscitam a tão conhecida alteridade pessoana, que o tornou famoso com seus heterônimos. Em Fausto, o leitor se depara com o heteronismo abstrato e metafísico, concentrando no protagonista o pluralismo de ideias, conceitos e conflitos. Pretende-se analisar as diferenças de abordagem do Fausto entre os dois autores pelo viés psicológico, utilizado pelo autor português, em contraponto à religiosidade presente de maneira significativa na obra de Goethe. A diferença entre essas duas abordagens será o objeto de investigação do estudo.
Palavras-chave: FAUSTO, RELIGIOSIDADE, GOETHE, FERNANDO PESSOA