Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Imagens de um trópico, segundo o “bricolage”, de Lévi-Strauss, e o “antidocumentário”, de Arthur Omar.
Fernando Arantes Ferrão (Faculdade de Letras/Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Não apenas aliterações comuns ressoam analogias entre Tristes Trópicos, extemporânea narrativa de viagens elaborada por Claude Lévi-Strauss, e a busca do conhecimento em estratos indígenas e mestiços brasileiros, empreendida pelo protagonista ficcional de Arthur Omar em seu longa-metragem, Triste Trópico. Para além dessa singela semelhança salientada entre o título do best seller francês, cuja edição princeps veio a público em Paris no ano de 1955, e o da película brasileira – lançada no Rio de Janeiro em plena ditadura civil militar brasileira (1973) –, tais textos encontram peculiar afinidade na imprecisão genérica dos termos com os quais seus autores os designam: “bricolage” e “antidocumentário”. Tomando o relato do antropólogo francês como objeto cultural compósito e complexo por excelência – cujas facetas invulgares o remetem para além do domínio das ciências humanas, fazendo-o adentrar as imprecisas fronteiras do campo da arte –, entendo ser justamente neste território que Triste Trópico, longa-metragem de Arthur Omar, busca diálogo com a obra autodiegética de Lévi-Strauss. Destarte, baseando-me nas reflexões desenvolvidas pelo antropólogo francês nas obras La Pensée sauvage (1962) e O olhar distanciado (1983), assim como nas ideias apresentadas pelo cineasta brasileiro no ensaio “O antidocumentário, provisoriamente” (1973), proponho-me a realizar breve exposição do presente estado de minha pesquisa de doutorado no PPGCL do Instituto de Letras/UFRJ, apontando reflexos formais que vinculam ambas criações, a partir da relação dialética instaurada pela possível releitura feita pelo cineasta brasileiro do texto do antropólogo francês – interação estética expressiva de um possível entendimento da problemática cultural contemporânea enquanto fenômeno de interação entre o global e o local.
Palavras-chave: Etnografias; "bricolage" literário; "antidocumentário" fílmico
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