Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A TORÇÃO DO MITO FÁUSTICO COMO DESPEDIDA DA MODERNIDADE
TATIANA DE FREITAS MASSUNO
A presente comunicação busca pensar a forma como as releituras do mito fáustico (Dr. Fausto de Thomas Mann, Tragédia Subjectiva de Fernando Pessoa e Meu Fausto de Paul Valéry) possibilitam um pensamento sobre a modernidade do século XX - aquela que se entenderá aqui enquanto despedida do ideal moderno. Paul Valéry, e não muito distante em termos temporais, também Fernando Pessoa e Thomas Mann, apropriam-se daquele que fora o mito conhecidamente moderno – Fausto – e trazem-no para o momento no qual a ideia de modernidade encontra-se em tensão. As progressões fáusticas do século XX já não são ascendentes e/ou lineares, uma vez que a própria ideia de progresso associada a estágios sucessivos é posta, nos textos literários em xeque. Afinal, o que nos trouxe o projeto moderno? – pergunta cada uma das interpretações fáusticas. Afinal, onde está o indivíduo, ideia fundadora da modernidade? O que nos trouxe a fé da razão? Percebe-se, assim, o momento no qual um dos mitos que nasce na modernidade incipiente e ganha força com o avançar da modernidade (o Fausto goetheano traz o ápice do otimismo moderno) olha de frente os ideais que foram fundamentais para o seu surgimento. Momento de autorreflexão na qual a modernidade olha-se ao espelho, enxerga claramente as ilusões que a fomentaram e percebe que fora o seu movimento, os ideais que estão por traz da ideia de subjetividade (HABERMAS, 2002, p.25), que impossibilitam agora, no início do século XX, aceitar prontamente as premissas modernas. Ou seja, a crítica da modernidade fora, assim, fomentada por seus próprios pressupostos. É também nesse momento, no início do século XX, que os três Faustos – um português, um francês e um alemão – terminam de forma trágica, sem que seja possível a salvação pelo eterno feminino simbolizado por Margarida. E o que implica esse mito moderno que morre? O que diz sobre a modernidade da qual se nutriu? O foco central, portanto, será o estudo das apropriações do início do século XX e da relação que a torção do mito fáustico possui com a ideia de despedida da modernidade. Torção é entendida aqui a partir da discussão trazida por Gianni Vattimo para a diferença entre as palavras Verwindung (torção) e Überwindung (superação) no contexto do pensamento pós-metafísico desenvolvido por Heidegger. Nesse sentido, a ideia de torção possibilita uma apreensão mais ampla para o sentido das várias mortes anunciadas ao longo do século XX, inclusive para aquela que aqui nos interessa: a morte de Fausto.
Palavras-chave: FAUSTO, MODERNIDADE, SUBJETIVIDADE, TORÇÃO
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