Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
FLORES MELANCÓLICAS: LAÇOS QUE SE QUEBRAM E AMORES QUE DEVORAM
RAFAEL VENÂNCIO, HERMANO DE FRANÇA RODRIGUES
A melancolia na filosofia, psicologia, psicanálise e outras ciências humanas, é considerada um pathos que abala o funcionamento das atividades do seu portador. Entretanto, muitos são os escritores que colocaram, na voz de seus personagens, as tristes concepções acerca do amor louco. Com efeito, a dor de um amor perdido ou não correspondido constitui o cerne de uma narrativa com traços melancólicos. É neste cenário que o conto A Flor de Vidro, escrito por Murilo Rubião, em 1965, foi construído: na história, o personagem principal, Eronides, mostra-se feliz ao saber que a mulher amada retornará e, com esta esperança transformada em certeza, ao reencontrá-la na estação de trem, o homem cego procura (re)viver os momentos venturosos que antecederam à separação, cuja razão que a causou é diluída durante a narrativa, e, mesmo com os poucos indícios, nem assim fica claro a verdade dos fatos. Logo é percebido que o relacionamento está sendo (re)apresentado em retrospecto, sob a perspectiva de Eronides que, na instância da mente, volta a anos anteriores, nos quais, tanto Marialice, a sua amada, quanto ele estão no viço de seus 20 anos e se divertem na mata. A realidade, aqui, ou se confunde com as lembranças de um amor perdido ou é a clara manifestação da incapacidade do protagonista em se desapegar do objeto com quem desejava fundir-se, em todo caso, a dor do desemparo, simbolizada na temível flor de vidro, está presente quer nas supostas lembranças quer no desejo de que elas fossem reais. Por isso, nossa pesquisa, numa conexão entre os estudos de base freudiana e a literatura, com as contribuições de LAMBOTTE (2000), pretende investigar a dor deste amor perdido, protagonizado pelo personagem Eronides que o reveste de uma singularidade ímpar e martirizante.
Palavras-chave: Melancolia. Perda. Psicanálise. Retrospecto
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