Por meio da leitura de algumas canções de Itamar Assumpção percebemos que, mesmo em situações limites, por exemplo em condições de enfermidade grave e persistente sofrimento, o corpo pode manifestar uma surpreendente potência. Não quero dizer que o sofrimento, a dor e a doença devam ser valorizados. No entanto, é possível extrair nessas circunstâncias doses de vitalismo, mesmo que em pequenas porções. Não é diretamente o sofrimento, a dor e a doença que expressam a vitalidade, mas os modos e as tentativas de lidar com esses entraves que demonstram a potência da vida. Dessa forma, é possível comparar por meio das canções de Itamar alguns afetos tristes em relação a alguns afetos alegres. Além de podermos extrair, em situações limites, sentimentos alegres e expressões de bom humor, também é possível encontrarmos a sobriedade em tais circunstâncias. A prudência é fundamental para que consigamos tratar com bom humor as situações limites. Inversamente, esse “estado de espírito” também é crucial para alcançarmos sobriedade em momentos difíceis, tais como em situações de enfermidade ou de aparente diminuição das capacidades do corpo. É claro que, em grande medida, o corpo doente pode prejudicar o desenvolvimento de certas habilidades mas, de outro modo, ele pode tentar superar as dificuldades desenvolvendo outras habilidades que até então o corpo saudável colocava em um segundo plano. Enfim, em situações extremas, tanto o “apetite” pela vida, quanto a prudência diante das escolhas podem aumentar exponencialmente.