TÂMARA DUARTE DE MEDEIROS, HERMANO DE FRANÇA RODRIGUES
O vitorianismo marcou a sociedade inglesa do séc. XIX, em virtude de seu regime austero e vigilante concernente Neste sentido, as obras de Oscar Wilde confrontam a hipocrisia da época, na medida em que evidenciam a fragilidade das relações humanas ante o capital e a própria ‘liquefação’ dos vínculos. É o caso dos protagonistas do conto O Príncipe Feliz, parte integrante da coletânea de História de Fadas, no qual ambos se ligam um ao outro pelos laços de um pesar que os esfacela e os aniquila. O Príncipe Feliz, uma ornamentada estátua de ouro, lamenta ao pássaro não ter percebido a miséria e a pobreza em que o seu povo vivia, enquanto ele desfrutava da melhor comida e bebida do reino, na sua vida humana; agora que estava definitivamente morto, e posto na praça pública, podia notar a má sorte de seus súditos e tal fato o compungia a ponto de solicitar a pequena andorinha que ficasse com ele e o auxiliasse no intento de ajudar os cidadãos pobres. A nobre estátua, por compaixão, se desfaz do rubi do punho de sua espada, dos olhos de safira e da roupagem de ouro. Neste processo, o pássaro, que tudo fizera conforme ordenado, decide ficar ao lado do Príncipe, mesmo passando pelas privações que o arrastam à morte. Na narrativa em foco, tanto a dor de amar quanto a culpa tornam-se o tema central, consumindo e esfacelando seus protagonistas que escolhem se compadecer dos outros ao redor. Nossa pesquisa, num diálogo entre a psicanálise de base kleiniana e a literatura, pretende investigar as linhas deste amor que enlaça, esfacela e faz com que os protagonistas se liguem, por meio de laços mortíferos, e renunciem a própria alteridade, sofrendo uma dor sem medida.