ANGELI RAQUEL RAPOSO LUCENA DE FARIAS, HERMANO DE FRANÇA RODRIGUES
O amor confessa a dor ou a dor confessa o amor? Deixando-se guiar por essas questões, nosso estudo pretende examinar a narrativa fílmica Amor nos tempos do cólera, adaptação do livro homônimo do escritor colombiano Gabriel García Marques, com vistas a compreender, a partir das ações do protagonista, os (dis)sabores do amor. No universo semiótico em foco, deparamo-nos com o drama de Florentino Ariza, em seu eterno apaixonamento (ou dor?) pela Fermina Daza, condição que lhe custa incontáveis relações sexuais como forma de expurgar a dor de amar que lhe arrebata visceralmente. Sua amada, proibida de amá-lo, prefere esquecê-lo e, para tanto, casa-se com outro, viril, varão, de melhor condição social. Em meio a esse conflito, Florentino entrega-se ao amar, faz da ausência sua confidente, na espera de, um dia, poder viver aquilo que lhe foi usurpado. O amor que une e separa os personagens parece distante do que poderíamos pensar sobre a experiência amorosa nos tempos coléricos atuais. As condições para amar, ou para viver um amor, se ainda nos é possível usar tais expressões, impulsionam-nos a mudanças sôfregas e angustiantes. Sofrer e ser tomado pela dor de amar ainda são eventos subjetivos que se presentificam em nossa cultura, munindo-se de novas roupagens, quando comparadas ao sofrer do personagem Florentino. Como arcabouço teórico, recorremos aos constructos metapsicológicos desenvolvidos por Sigmund Freud, bem como ao ensino de Jacques Lacan. Outras fontes, compiladas pelos psicanalistas contemporâneos Jacques Alan Miller e J.D. Násio, também serão visitadas, a fim de nortear as discussões, aqui, apresentadas.