Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
PRÁTICAS DA CRÍTICA EM ESPAÇO DIGITAL: A VIDA LITERÁRIA EM UMA NOVA ESFERA PÚBLICA
NATÁLIA FRANCIS DE ANDRADE
Embora os estudos literários ainda passem ao largo da autorreflexão sobre suas articulações com o universo digital, ela é fundamental para que se diminua a assimetria entre as formas institucionais estabelecidas da crítica e sua práxis contemporânea. Nesta comunicação, será problematizada a crescente profusão em círculos virtuais da participação de professores, pesquisadores, analistas e artistas das áreas de literatura e cultura, que alimentam o ambiente digital com textos e comentários críticos e, além disso, constroem autorrepresentações em rede. Conforme sinalizam autores como Beatriz Resende, "no cyberspace surge uma nova vida literária – com amizades, brigas ou perseguições – que configuram, hoje, novas formas de escrita, de leitura, de crítica e, sobretudo de produção e circulação literárias." O exercício de encontrar condições e formas de estar nos dois lugares - no livro publicado e nas revista eletrônicas, na discussão de corredores universitários e nos debates nas redes sociais – exige, porém, que se administre a tensão entre dois sistemas de valores: o da tradição e o da comunidade digital. Esta comunicação situa a resistência a novas modalidades de crítica na esteira de um debate cíclico que se arrasta no Brasil desde a década de 40, quando houve a querela entre o "rodapé" e a "cátedra". Sob novas molduras, reacendem-se questões semelhantes. Como e onde, afinal, se "pode" falar sobre literatura? De que maneira a tônica da dinâmica entre os novos espaços e aqueles onde o pensamento sobre literatura já está aferrado (principalmente a Universidade) pode passar da disputa para o diálogo, do antagonismo para a complementariedade? Em "Crítica literária:em busca do tempo perdido?", João Cezar de Castro Rocha diagnostica que "a criação de vínculos simbólicos entre indivíduos transferiu-se do campo literário, da esfera do livro, para áreas de produção associadas à tecnologia com base em recursos audiovisuais e digitais". Em tempos de perda de centralidade da literatura e dos livros como forma cultural privilegiada e diante do panorama geral de crise da crítica em seus espaços tradicionais, seu lugar e papel devem ser reavaliados. Entender onde circula o intelectual, como são percebidos seus gestos na esfera pública e quais as formas de sua auto-encenação e autorrepresentação implica, hoje, compreender as relações em rede virtual. Nesse espaço, porém, as próprias noções de "esfera pública" (como definido por Habermas) ou de "polêmica" são tensionadas, pois seus sentidos originais dependeriam de uma centralidade mínima em torno de um objeto comum - mas o que a grande rede abarca e encena é justamente uma profusão de intervenções pontuais, fragmentadas. Afinadas, portanto com o momento de superação do paradigma moderno de classificações fundadas em dicotomias e de superação, também, nos estudos literários, do modelo de "crise e crítica", descrito por Reinhart Koselleck. Assumindo e trazendo também à pauta a dificuldade de estabelecer distância epistêmica de um objeto como a internet, cujo impacto ainda se faz sentir em nossa vivência cotidiana, esta comunicação traça uma breve cartografia dos atuais usos da web pela crítica e propõe ferramentas teóricas para pensar uma relação produtiva entre academia e participação crítica na internet.
Palavras-chave: CRÍTICA CONTEMPORÂNEA, ESPAÇO DIGITAL, HIERARQUIA CULTURAL, ESFERA PÚBLICA
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