Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
COMO A CRÍTICA LITERÁRIA REAGIU – E REAGE – À FIGURAÇÃO DO REGIONAL NA PROSA CONTEMPORÂNEA
MANUELLA MIRNA ENÉAS DE NAZARÉ
Se a prosa contemporânea é essencialmente urbana e citadina, segundo Manuel da Costa Pinto (2005), que lugar tem a prosa contemporânea que trate o regional e coloque espaços do interior? E não são poucas, chamando atenção para o carioca João Ubaldo Ribeiro, o amazonense Márcio Souza, o paulista Raduam Nassar, o baiano Antônio Torres (todos esses com obras iniciadas entre a década de 70 e 90, alguns entrando no século XXI), o amazonense Milton Hatoum, o mineiro Luiz Ruffato, o paraibano Francisco Dantas e o cearense Ronaldo Correia de Brito. Cada um desses escritores, a sua maneira, figura o regional na prosa contemporânea, reconfigurando antigos moldes para o trato de uma região na literatura. A maior parte assume não reafirmar o “ismo” da regionalidade, apenas dialogar com retratos e realidades de uma região, conversando com seu passado e seu presente, que estão, geralmente, em relação nas suas obras. Falar em regionalidade sem dizer ou desdizer os discursos construídos para a região é complicado, por isso a crítica literária de hoje geralmente coloca esses escritores em relação com o regionalismo. O que parece problemático, uma vez que, o imaginário e o projeto são outros. Dentre os discursos mais expoentes sobre a região, na literatura, temos o naturalismo de fins do séc. XIX, o Regionalismo surgido a partir do Modernismo e culminante nos romances de 30, e o Armorialismo de Ariano Suassuna. E o imaginário acionado em todos eles costumou ser homogêneo e, por mais diverso que fosse, cheio dos mesmos mitos, crendices, tradições e identidades estereotipadas, em um espaço de saudades e cheio memórias de origem. Mas é claro que, como haveria de ser, desde então a sociedade se modificou muito; paralelo a isso, as necessidades estéticas foram modificadas, e a literatura acompanhou esse processo, ainda que sem tanta notoriedade por parte da crítica, ou mesmo entendimento do que estava sendo feito. Percebendo esse contexto, este trabalho visa estudar como a crítica literária contemporânea tem recebido esses novos discursos ficcionais sobre uma região, com enfoque sobre a prosa. Veremos o caso da recepção de alguns escritores, pretendendo problematizar os pensamentos a respeito deles e perceber as opiniões da crítica sobre a prosa contemporânea que trabalha o regional. Karl Erik Schollhammer, por exemplo, pensa os escritores referidos mais acima como participantes de um novo regionalismo, em que as características deste se transformam de múltiplas maneiras, estabelecendo diálogos com Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Porém, é problemático trazer “ismos” para a contemporaneidade tão plural, pelos limites de liberdade criadora que eles colocam para os escritores que queriam tratar do regional. É o que acredita Durval Muniz Albuquerque Junior ao falar das construções discursivas em torno da região Nordeste, tentando fazer perceber que a contemporaneidade deslocou vários estatutos do passado, os quais a literatura regionalista passava a diante conscientemente de seu projeto, o qual não existe mais hoje. Veremos, então, como está a recepção, por parte da crítica, das novas versões do regional e de suas novas tensões na prosa contemporânea.
Palavras-chave: CRÍTICA LITERÁRIA, PROSA CONTEMPORÂNEA, REGIONAL, LITERATURA
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