A atuação do paulistano Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (1892-1933) em “La divina increnca” e como cronista do jornal “O Pirralho”, entre 1910 e 1920, traduz bem o espírito debochado e aguerrido dos jornalistas e escritores do início do século XX, frequentemente postos à margem do cânone literário modernista – capitaneado por Mário e Oswald de Andrade. Sem ser assíduo frequentador dos salões da Pauliceia, durante a Belle Époque, Juó Bananére fez da imprensa uma plataforma cultural, popularizando a crônica de “divertissement” e o poema-piada. Neste trabalho, relativiza-se o assim chamado Pré-Modernismo e reivindica-se lugar de destaque para a produção desse escritor de sotaque italiano, à luz de relevantes estudos a seu respeito, empreendidos nas últimas três décadas. Retoma-se a discussão em torno dos gêneros risíveis, como o chiste, a paródia e a sátira, já que nas mãos de Juó Bananére a “blague” assumiu estatuto literário e consolidou-se como forma de engajamento. Um dado curioso é que, cinquenta anos após a morte de Marcondes Machado, o cartunista gaúcho Carlos Henrique Iotti (nascido em Caxias do Sul, no ano de 1954) tenha criado a personagem Radicci, protagonista de numerosas histórias em quadrinhos em que o dialeto ítalo-brasileiro desempenha papel tão relevante quanto na obra de Juó Bananére. Em ambos os autores, a qualidade das obras resulta do consórcio entre imagem e palavra, seja por meio de caricaturas, seja por intermédio de historietas agitadas por figuras marcantes, com dicção peculiar e idiomas misturados. Desse modo, a crônica, a poesia e as tiras em quadrinhos não limitam o fazer literário; antes, potencializam o seu alcance por intermédio dos gêneros cômicos. Por meio da “blague”, a crítica, a fluidez e a estilização caminham juntas. Independentemente do suporte ou da modalidade textual empregada, percebem-se formas de interlocução entre os dois escritores de origem italiana. Separadas por meio século, as narrativas de Bananére e Radicci desenrolam-se sob o protagonismo da linguagem macarrônica, favorecendo a primazia do senso crítico sobre as ideias prontas.
Palavras-chave: JUÓ BANANÉRE, LITERATURA BRASILEIRA, BLAGUE, CARLOS HENRIQUE IOTTI