Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ECOS DA BELLE ÉPOQUE BRASILEIRA EM PORTUGAL: A RECEPÇÃO DE COELHO NETO EM TERRAS PORTUGUESAS
THIAGO MIO SALLA
A presente comunicação tem como objetivo recuperar e analisar a recepção da obra de Coelho Neto em Portugal entre o início do século XX e o final dos anos 1920, isto é, entre o começo e o auge da edição e da difusão das obras desse prolífico autor brasileiro do outro lado do Atlântico. Em linhas gerais, a história da publicação da obra de Coelho Neto em Portugal inicia-se no ano de 1900, quando a Tavares Cardoso & Irmão Editores publica a ópera Saldunes – Acção Legendada em Três Episódios. Em seguida, praticamente, toda a produção do prosador maranhense editada em terras portuguesas será realizada pela portuense Lello & Irmão. Em 1911, João do Rio sinalizava que a iniciativa dessa casa editorial teria proporcionado um “arrancar de cortinas” ao permitir revelar o Brasil aos portugueses. Em conformidade com tal apontamento, Hallewell pontua que, no início do século XX, Coelho Neto tinha mais leitores em Portugal do que no Brasil, num momento em que o referido artista ainda desfrutava de capital simbólico por aqui, chegando a ser eleito, em 1928, “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” pelo jornal carioca O Malho, apesar das críticas cada vez mais constantes, sobretudo de seus adversários modernistas. Tratava-se de nosso primeiro homem de letras a conseguir real popularidade e expressiva publicação na terra de Camões. Por meio de levantamento realizado na Biblioteca Nacional de Portugal e na Academia Brasileira de Letras, bem como da retomada de volumes dedicados à bibliografia do autor maranhense, foram encontradas noventa edições de obras de Coelho Neto publicadas no Porto pela Lello & Irmão, no intervalo entre 1903 e 1951. Desse total, 71 concentram-se entre os anos de 1910 e 1920. Apenas nessa última década, foram encontradas 53 edições de diferentes títulos da volumosa obra do escritor brasileiro. Desse conjunto, o destaque maior recaiu sobre Sertões, primeiro volume de Coelho Neto editado pela Lello & Irmão ainda em 1903. Nessa coletânea de contos, o autor recolhe uma série de narrativas curtas de caráter regionalista, em que avultam o gosto pela expressão local e pelo sentimento do exótico em perspectiva que se opõe ao cosmopolitismo então reivindicado pelo Rio de Janeiro em processo de modernização. Ancorado nessa fórmula, do conjunto de livros do romancista brasileiro editado pela Lello, Sertão descreveu a mais expressiva trajetória de sucesso editorial em terras lusas: de 1903 a 1945 essa obra alcançou seis edições, duas delas nos anos 1920 (1921 e 1926). Não por acaso, o caráter pitoresco e a prosa ornamental de Sertão chamaram a atenção de parte da crítica portuguesa, que acolheu favoravelmente o exotismo vazado na variante lusitana do português. Para além da acolhida de tal livro em Portugal e do diálogo que ele propõe entre campo e cidade no âmbito de nossa Belle Époque, esta comunicação também abordará o fato singular de Coelho Neto sobreviver da própria pena, algo que chamou a atenção de Fialho de Almeida e de outros expoentes da intelectualidade portuguesa.
Palavras-chave: COELHO NETO, RECEPÇÃO EM PORTUGAL, EDITORA LELLO, BELLE ÉPOQUE
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