Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
CECÍLIA VASCONCELOS E AS MODERNAS MULHERES: A FIGURAÇÃO DE CHRYSANTHÈME
ROSA MARIA DE CARVALHO GENS
A Belle Époque carioca aponta para uma intricada rede de tendências, que se espraiam ao final do século XIX e prosseguem nas primeiras décadas do XX. Entre elas, avultam as ligadas ao panorama de movimento vertiginoso, às tensões modernas, às dinâmicas de gênero e ao traçado da cidade do Rio de Janeiro, profundamente modificado. Os tempos mudaram, como nos afirmava João do Rio em seu O momento literário, e, com eles, os papéis ligados a homens e mulheres se reconfiguram. A presente comunicação revisita a obra da escritora Cecília Bandeira de Melo Rebelo de Vasconcelos (1870-1948), que se assinava Madame Chrysanthème, figura literária que publicou em jornais, revistas e lançou quinze volumes, com ampla aceitação por parte do público. O pseudônimo tem origem na obra de Pierre Loti denominada Madame Chrysanthème, publicada em 1887, e a sintonia da escritora com o autor francês dá-se, principalmente, pelo painel descritivo que marca seus textos. A autora sobrevive da literatura e possui laços com a sociedade que permitem visualizá-la como pertencente ao campo literário de maneira excêntrica. Busca-se, aqui, estudar a representação das mulheres em suas obras, motivo perseguido pela autora, paralelamente à apreensão da imagem da cidade do Rio de Janeiro. A literatura, como importante espaço de revelação de construção de gênero, pode se expor tanto como reforço e promoção das normas sociais quanto como questionamento da experiência social. Observa-se, então, que as personagens femininas produzidas pela escritora não agem segundo as convenções, desfilam pelas ruas do Rio de Janeiro surpreendendo os passantes, usam o sexo como elemento de poder, utilizam drogas e dançam o foxtrote e o ragtime. No entanto, sua elaboração ficcional continua esquemática, sem complexidade psicológica. Ficções plasmadas no desejo, apontam para o estranho e para o consumível pelo público da época, mostrando-se como literatura de choque, de escândalo. Pela leitura dos títulos de seus volumes e dos anúncios que os veicularam nos jornais, fica patente o propósito da autora de atingir um grande número de leitores a partir de uma estratégia de sedução pelo apelo ao erótico, ao moderno, ao violento. As capas de suas edições também visam a servir de chamariz, com a presença de mulheres nuas, cadáveres, expressões faciais enigmáticas.Tem-se como objetivo maior, portanto, reinterpretar e revisar alguns pontos da obra de Chrysanthème, notadamente nos romances Enervadas (1922) e Matar (1927), que dizem respeito a valores, convenções, experiências, influências e afinidades. A autora celebra o feminino, mostra-o e desnuda-o, através de representações vigorosas, que compõem o leque de possibilidades de entendimento de mulheres à beira do moderno, mas ainda vagando à margem de uma consciência de seu papel enquanto mulheres.
Palavras-chave: CHRYSANTHÈME, BELLE ÉPOQUE CARIOCA, RELAÇÕES DE GÊNERO, FICÇÃO BRASILEIRA
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