O mito de Hipólito e Fedra possui registros desde a Odisseia de Homero, quando Odisseu visita o Hades. A história trata da paixão de Fedra, esposa de Teseu, pelo seu enteado, Hipólito, que é, mais tarde, acusado de ter ultrajado a casa de seu pai, por ter tocado em sua esposa. Tal relato mítico é retomado na tragédia clássica em duas obras do dramaturgo Eurípides, sendo que a primeira delas, intitulada Hipólito Velado, possuímos poucos fragmentos, ao passo que o segundo texto, Hipólito Porta-Coroas, já temos a sua totalidade. Vale destacar que a primeira tragédia escandalizou o público, pois Fedra apresentava diretamente a sua paixão a Hipólito. Já a segunda não possui tal cena, mas, a revelação da paixão é realizada pela aia, por isso a presença dessa personagem é tão significativa nessa tragédia. No prólogo da peça, a deusa Afrodite revela todo o enredo da trama da tragédia, contudo não nos informa sobre a interferência da serva da rainha e tal personagem será mencionada como decisiva, no êxodo, pela deusa Ártemis. Há registros de que Sófocles teria escrito também uma peça com o mesmo tema, porém sabe-se muito pouco sobre esse texto. Posteriormente o dramaturgo latino, Sêneca, retomou tal mito e apresentou uma nova reflexão, adaptando-o de acordo com a sua filosofia estoica. Os estudiosos da Literatura Latina debateram muito se o texto de Sêneca seria uma simples cópia e até mesmo se possuía valor literário. Vale mencionar que o estudioso Pierre Grimal destacou a qualidade literária da tragédia de Sêneca. Conceitos novos apresentados no estudo da Literatura como intertexto, imitação, originalidade e influência foram decisivos para uma nova avaliação dessa tragédia. Agora, no texto latino, se observa é uma retomada da estrutura da primeira tragédia de Eurípides, ou seja, Fedra apresenta diretamente o seu desejo a Hipólito. Também merece destaque que a figura de Fedra, pelo seu desequilíbrio e por sua incapacidade de conter o seu desejo amoroso, é apontada por ser uma personagem cujos atos deveriam ser evitados e estariam longe de uma conduta equilibrada que, de certo modo, era defendida pela filosofia estoica. Muitos séculos depois, Racine, também retoma o mesmo mito, porém introduz uma série de novidades se fizermos um contraponto com as obras dos dramaturgos clássicos, apesar de que novamente Fedra confesse o seu desejo amoroso a Hipólito. Além disso, nessa peça há a introdução de novos personagens que não estariam nas tragédias clássicas, como, por exemplo, Arícia, Terâmeno, Panopéia. Racine, do mesmo que os autores clássicos, reescreve o mito de acordo com as suas escolhas mas tendo sempre subjacente os textos greco-romanos. Desta forma, a ideia central é refletir como o dramaturgo francês escreve a sua tragédia em contraponto com o legado clássico; é explicar esse diálogo que mantém com o passado e ao mesmo tempo com o seu período histórico.