Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
UMA FLORESTA DE HOMENS: TRIBALISMO E MESTIÇAGEM EM MAYOMBE, DE PEPETELA
PEDRO HENRIQUE GOMES PAIVA, MARÍLIA FÁTIMA DE OLIVEIRA
No livro Mayombe, publicado em 1980, o autor angolano Arthur Carlos Maurício Pestana dos Santos, nascido em 29 de Outubro de 1941, na cidade de Benguela, mais conhecido como Pepetela, constrói uma narrativa que retrata um momento turbulento da história do seu país, transportando o leitor para o interior das tensões e dramas vivenciados pelos guerrilheiros do MPLA (Movimento Pela Libertação de Angola), um dos partidos revolucionários na guerra de libertação do império português, nas frentes de batalha em Angola. O propósito deste artigo é o de analisar a forma como estão representados, dentro da base militar comandada pelo protagonista Sem Medo, os fatos sociais - como denomina Émile Durkheim, as maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo -, “tribalismo” e a “mestiçagem” na Angola da segunda metade do século XX, e verificar como esses dois aspectos do romance influenciam as ações e os julgamentos dos principais personagens que compõem o destacamento e quais os impactos desta influência para o avanço da revolução. O tribalismo e por consequência a mestiçagem decorrente da colonização portuguesa, como é retratado na obra, no período da revolução, era responsável causador de práticas discriminatórias emblemáticas e, se por um lado, fazia nascer um sentimento de cumplicidade e aproximação entre membros originários de uma mesma tribo, por outro, fomentava a segregação entre membros de tribos diferentes, e exclusão dos considerados sem tribo ou “destribalizados”. Para alcançar tal objetivo, realizamos uma leitura da obra literária, dentro da perspectiva diacrônica, utilizando as referencialidades históricas disponíveis na literatura africana, situando a ficcionalidade da narrativa no local e no contexto pós-colonial em que ela emerge. A estrutura do texto se propõe a relativizar as falas das personagens construídas dentro do romance a partir das relações que elas estabelecem com as diversas identidades inerentes a um período de guerra, identidades tais que as diversas personagens tem a função de representar. Para fundamentar esta análise, buscou-se respaldo em pesquisadores brasileiros e estrangeiros especialistas na obra do autor, como Rita Chaves e Dario de Melo. Dentro dos estudos culturais, utilizamos autores cujas obras, universalizadas, são emblemáticas para o trato com as literaturas pós-coloniais, como Edward Said e Homi K. Bhabha e, ainda, Stuart Hall com teorias sobre a identidade cultural dos sujeitos no contexto de pós-modernidade. Desta forma, concluímos que, analisando o plano global da história da guerra pela libertação de Angola, o tribalismo e a mestiçagem podem ter influenciado negativamente em vários aspectos no processo de libertação, gerando corrupção, traições, desavenças e inclusive causando mortes, tendo em vista que, as diferenças tribais escondiam também diferenças ideológicas, de forma que cada subgrupo que se formava dentro do exército guerrilheiro tinha as suas próprias opiniões, pretensões e objetivos com a guerra. O que se comprova pelo fato de que, após a libertação do domínio de Portugal, o país entrou em uma violenta guerra civil baseada, entre outras questões, nas diferenças entre as tribos que lideravam os grupos revolucionários.
Palavras-chave: PÓS-COLONIALISMO, IDENTIDADE, CULTURA, ANGOLA
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