Americanah, o livro de Chimamanda Ngozie Adichie, conta a história de Ifemelu, mulher nigeriana que, movida por necessidades econômicas e por vontade de sair de um país que passava por um momento de sucateamento do ensino por conta de um governo militar e por uma depressão econômica, vai morar nos Estados Unidos, para acabar os estudos e buscar um trabalho. Nesse processo, se separa do homem que seria o amor de sua vida, se reaproxima da tia, médica, que já tinha ido anteriormente para os Estados Unidos com seu filho, e entra em contato com a comunidade de expatriados africanos nos EUA, bem como com o racismo americano. Para falar sobre isso, a personagem cria um blog. Blog esse que pode ser lido na internet, em separado do livro. Constava do site da autora, mas foi retirado e colocado em um domínio separado. A autora se propõe constantemente também a falar sobre a África, sobre sua vida em constante mudança – como sua personagem, ela vive entre Estados Unidos e Nigéria – e sobre feminismo. Nessa comunicação, pretendo falar sobre as relações entre essas três falas da autora. Como o blog, a sua fala enquanto pessoa pública em palestras pelo mundo e o seu romance se entrecruzam. Chimamanda, que é uma representante do que Goli Guerreiro chama de terceira diáspora africana, em que a internet e as questões econômicas interferem nos deslocamentos que anteriormente eram realizados por via marítima, como demonstrado por Paul Gilroy em O Atlântico Negro, se coloca como pessoa pública em palestras como Ted Talks, discutindo questões políticas de raça e gênero na África e no mundo. O Blog em que sua personagem discute isso é uma interrupção no texto do romance, entrando como a voz da autora sobre questões que a personagem atravessa. E a comparação entre as três falas – o romance, o blog e a palestra – pode nos ajudar a compreender como essa troca de informações e experiências se dá nos dias de hoje, da chamada terceira diáspora. Chimamanda se utiliza da internet para promover e participar dessa troca, para promover seu livro e para colocar questões em discussão, que depois utiliza em seu romance, e a comparação entre as três falas pode nos ajudar a perceber como a autora cria a sua fala nessa situação de deslocamento constante, e como a internet tem nesse processo um papel crucial na construção da troca e do texto da autora.