Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
SOBRE ESCALA, TERRITÓRIO E ARQUIVO: A LITERATURA NA CRÔNICA DO TRÁFICO DE DROGAS NO BRASIL E NO MÉXICO
THIAGO JOSÉ MORAES CARVALHAL
A dimensão escalar da espacialidade humana – e em específico a escalaridade do narcotráfico como fenômeno social inscrito profundamente nesta espacialidade – é noção de grande relevância para a análise das produções subjetivas no campo cultural latino-americano contemporâneo e convém a este trabalho como chave conceitual que tem por mérito proporcionar um eixo para a abordagem no estudo comparatista das representações discursivas que têm no narcotráfico, e em sua territorialidade, o fundamento para o desempenho de uma vasta sorte de crônicas no Brasil e no México. Obras como Falcão: meninos do tráfico (2006), de MV Bill e Celso Athayde e Los morros del narco: historias reales de niños y jóvenes en el narcotráfico mexicano (2011), de Javier Valdez Cárdenas são amostra dessa produção, extensamente mais profícua na cena mexicana, enquanto objetos de consumo cultural de valor na relação entre demanda por parte do público e muito maior oferta do mercado local. Desse modo, desde a hipótese que esta determinada ordem de crônicas do tráfico esteja fundada em um arquivo (como em Foucault, e em González Echevarría) do crime, que se oferece ostensivamente aos relatos literário (e artístico, de modo mais generalizado), jornalístico, jurídico-criminal e do mercado de bens culturais, e, pela circularidade da dinâmica de trocas que tais discursos realizam entre si, que neles (e deles) inocula(-se de) suas marcas as quais remetem às formas do discurso avalizado no poder vigente (de suas muitas manifestações) e que a ele convergem. Nas crônicas literárias sobre o tráfico de drogas, o arquivo do crime tem como mito fundador do ato representacional os discursos disponibilizados no imaginário social, dos quais os discursos do mercado de bens culturais (e os meios massivos) têm reiterada presença. Em tais narrativas o real está, assim, mediado discursivamente por perspectivas de apreensão em disputa, e a representação é fatura da negociação entre discursos - etnográfico, literário, jornalístico, criminalístico... Assim, seja como crônica literária, seja como crônica jornalística, o dado da escala do fenômeno do tráfico de drogas tem como propósito analisar as relações que estabelecem poder e arte, quando poder converte-se em arquivo e desde o real territorializado pelo cartel ou facção passa a fundar o discurso artístico que articula a representação do real – como crônica. E como a escala do tráfico como atividade econômica varia incomensuravelmente na comparação entre México (no qual assume proporções atacadistas, focado na logística do fornecimento, majoritariamente, para o mercado consumidor estadunidense, e espacialmente se organiza de modo macrorregional) e Brasil (varejo, para o mercado interno, sob a forma de um território descontínuo, em rede), serão distintas as formas da arte se relacionar com as heterogêneas proporções e formas do de poder do tráfico, em sua expressão territorial, sempre atravessado pelos discursos sobre si, e o modo como o tráfico, enquanto forma heterogênea de poder, interfere no campo cultural de modo a inscrever seus próprios relatos no imaginário cultural, prefigurando-se (o cartel, o Comando Vermelho, o narcotraficante, o marginal) em mito do arquivo como repertório discursivo do qual emana parte da crônica do contemporâneo.
Palavras-chave: NARCOLITERATURA, TERRITÓRIO, NARCOTRÁFICO, ESCALA
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